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Viagem à Coreia do Sul: do k-pop à tecnologia

Pequenos mas aguerridos, os sul-coreanos não vão facilitar a vida a ninguém no Grupo H.

Gonçalo Palma

Gigantes da tecnologia e inventores do taekwondo, os sul-coreanos vão tentar contrariar no futebol a teoria de menor favoritismo com a prática de um futebol lutador em que vão comer a relva se for preciso. Zelarão pela campanha mais longa possível no Mundial, como se tentassem sobreviver no "Squid Game".

Son, a estrela que ilumina
Son Heung-min (do Tottenham) é o maior futebolista asiático dos últimos anos. Ele é o sobredotado da seleção sul-coreana, tão fértil nas assistências, quanto nos golos marcados. Tem tendência para tramar a vida aos seus opositores, com um magnifico jogo de pés que desnorteia os jogadores de campo e com remates a baixa altura que dificultam muito a defesa aos guarda-redes. Graças ao seu alto rendimento, a Coreia do Sul teve um apuramento tranquilo para o Catar 2022. A afirmar-se na alta roda do futebol europeu está o central Kim Min-jae, a impressionar na Serie A italiana com a camisola do Nápoles. Parece ler as mentes do atacantes adversários e adivinhar o que estão para fazer, com uma enorme capacidade de antecipação. Vai dar muito jeito à seleção sul-coreana, treinada há mais de quatro anos pelo português Paulo Bento.

 

O único semi-finalista asiático

A Coreia do Sul tornou-se na primeira seleção asiática a alcançar as meias-finais de um Mundial, precisamente aquele que co-organizou com o Japão em 2002. Com muita polémica à mistura, incluindo no jogo que eliminou Portugal - o tal em que João Veira Pinto foi expulso por uma entrada dura -, a Coreia do Sul entusiasmou-se com a fase de eliminatórias de um Mundial, depois de repetidas eliminações na primeira fase. Em 2010, conseguiu alcançar os oitavos-de-final.

Apesar da afirmação continental indubitável, a Coreia do Sul não é campeã asiática desde 1960. Depois dos dois títulos asiáticos – em 1956 e 1960 – os "Guerreiros de Taegeuk" perderam as quatro finais seguidas da competição. Há um avançado sul-coreano, fora das contas para o Mundial, que deixou boa memória em vários clubes portugueses, em especial no Vitória de Setúbal, em 2015-16: tramo-lo por Suk, que é mais fácil de dizer do que o seu nome complexo: Suk Hyun-jun.


K-pop

Um sul-coreano, Psy, pôs o mundo a dançar em 'Gangnam Style'. O videoclipe bateu o recorde de visualizações, ultrapassando o bilião. Psy, de fato, ténis e uns óculos escuros, popularizou uma forma excêntrica de dançar. Nunca se falou tanto em k-pop, um subgénero nascido na Coreia do Sul e que se enraíza no Extremo Oriente, onde no meio de uma abundância de géneros ocidentais - pop, r&b, funk - se dá um toque mais tradicional e exótico, que não se deve apenas ao emprego da língua coreana. Curiosamente, os refrães costumam ser em inglês, tal como em 'Gangnam Style'. Hoje, as grandes estrelas mundiais do k-pop são os BTS, com estatuto para visitarem o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na Casa Branca.


Kinchi

As normas de etiqueta são muito importantes no modo de comer sul-coreano. Em muitos rituais, o chá desempenha um papel essencial, acompanhados muitas vezes, por bolos de arroz, os redondinhos tteok. A cozinha, como é típica no Oriente, é muito à base de carnes e, claro, de arroz e peixe. Se se estiver em Seul, também se pode comer com os olhos nos mercados de rua como o Namdaemun, em Seul, onde podemos ver vários fritos e grelhados como as espetadas dak-kkochi, de carne de frango. O mercado de peixe de Noryangjin, também em Seul, é outro espetáculo visual, com bancas de 700 vendedores. À hora de aurora, há até leilões para o peixe mais requerido.

É impossível falar de comida sul-coreana e não mencionar os kimchis, uma conserva de pickles de couve, cenoura e nabo que se podem comer num novo restaurante asiático, o Soão, em Lisboa (no bairro de Alvalade), que tem outros pratos coreanos como o dakgangjeong - asas de frango crocantes com molho e sementes de sésamo - ou o galbijjim - costela de vaca marinada e cozida a baixa temperatura. Mais predominantemente coreano é o Xin, em Odivelas, com vários pratos picantes, incluindo sopas, e forte nos noodles e nos acompanhamentos - como é hábito no país.


T de tecnologia, T de taekwondo

Tal como o Japão, também a Coreia do Sul é uma potência tecnológica, cada mais focada nas energias alternativas. Nessa linha, é perceptível que muitas das marcas mais internacionalizadas do país estejam ligadas ao ramo de produtos eletrónicos como a Samsung (famosa pelos telemóveis) ou a LG (reconhecida não só pelos telemóveis como por eletrodomésticos como frigorificos ou micro-ondas). A indústria automóvel é igualmente uma boa exportadora, basta pensarmos nas viaturas da Hyundai ou da Kia, ambas presentes nas nossas ruas e parques de estacionamento.

Nos media visuais, a série de TV da Netflix "Squid Game" pôs o mundo a par de alguns jogos coreanos na forma mais macabra. Na grande tela, o cinema do país foi ganhando peso no circuito dos festivais e da distribuição comercial mundial. Mas a grande glória aconteceu com o filme de dupla personalidade "Parasitas" (de 2019), do realizador Bong Joon-ho, a ganhar os óscares de Melhor Filme Estrangeiro e de Melhor Filme, meses depois de ter vencido a Palma de Ouro de Cannes.

 
Embora não muito falada por cá, a capital Seul é uma das cidades asiáticas com mais atrações, onde não faltam aqueles palácios e templos esmagadoramente orientais, como de Gyeongbokgung e de Bongeunsa, torres altas como a N Seoul Tower (com 236 metros de altura) ou vilarejos típicos como o Bukchon Hanok. Os montanhosos parque naturais de Bukhansan e de Seoraksan, com milhares de diferentes espécies vegetais diferentes, são a prova viva da biodiversidade sul-coreana.

Tal como no Japão, há uma grande paixão dos sul-coreanos por desportos americanos, como o basebol ou o basquetebol. No andebol, a seleção feminina tem dado bom nome ao país do Extremo Oriente, já campeã olímpica em 1988 e em 1992 e campeã do mundo em 1995. Como será de esperar, atendendo à região geográfica, o país também tem as suas próprias artes marciais, a mais expandida em todo o mundo é o taekwondo, já modalidade olímpica desde 2000. Se virem redes altas espalhadas em vários pátios e parques, não estranhem, tratam-se de courts de badminton, alguns deles improvisados: o desporto é muito praticado na Coreia do Sul: foi nas Olimpíadas de Seul 1988 que se tornou olímpica.