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Viagem à Tunísia: das ruínas romanas às mesquitas

Será desta que a Tunísia passa para a segunda fase de um Mundial? Olhando para adversários como França e Dinamarca, as probabilidades são baixas.

Gonçalo Palma

O país está habituado a morder os calcanhares aos gigantes, apesar das eliminações precoces nos Mundiais. A grandeza do país continua apenas na herança histórica (fenícia, romana) e nas mesquitas de cidades sagradas como Kairouan.

Não há cinco sem seis?
Depois de cinco participações breves em Mundiais, que terminaram nas fases de grupos com meros três jogos, não parece ser à sexta presença que a Tunísia conhecerá finalmente o doce sabor da passagem à segunda fase. Perante adversários europeus bastantes fortes como a Dinamarca e, sobretudo, a França, a Tunísia parece uma equipa de segunda linha internacional, olhando para as suas soluções individuais. Os internacionais A tunisinos estão dispersos pelos campeonatos dos vários países africanos e do Médio Oriente e até dos países europeus clubisticamente menos competitivos. Há três ou quatro exceções, a jogarem na Ligue 1, em França, ou, no caso do médio Ellyes Skhiri, na Bundesliga, na Alemanha. O que é que tem mais peso nestes recentes jogos amigáveis: a Tunísia que é goleada pela Brasil por 5-1 ou a Tunísia que venceu de forma assertiva o Japão por 3-0? Só o Mundial do Catar responderá.

 

O regresso cedo a casa

As cinco presenças da Tunísia no Mundial podem ter em comum a sensação azeda da eliminação logo na primeira fase. Mas cabe-lhes a proeza de terem sido a primeira seleção africana a ganhar um jogo do Mundial. Isso aconteceu em 1978, logo no jogo inaugural frente ao México, por 3-1. Ainda voltaram a surpreender oito dias depois, ao secarem a um nulo os campeões do mundo, a Alemanha Ocidental. Mas nem assim passaram à segunda fase, iniciando um ritual de fazerem cedo as malas, que se tem mantido ao longo das décadas seguintes.
 
Em 2004, a Tunísia aproveitou bem a condição de anfitriã para se tornar campeã africana, sob os comandos do selecionador francês Roger Lemerre, que já sabia o que era ganhar uma competição continental, mas na velha Europa, através da equipa nacional do seu país, em 2000. A nível clubístico, os tunisinos também chegaram ao palanque mais alto da Liga dos Campeões de África: quatro títulos para o Espérance de Tunis, um para o Étoile du Sahel e para o Club Africain.
 


 

Malouf

O malouf é a grande música ancestral da Tunísia, com mais de 500 anos de história e até influências ibéricas, por intermédio das invasões cristãs. Ritmicamente berbéres, a alma árabe destes grandes ensembles de percussionistas, violinistas, violoncelistas e flautistas fervilha também nos coros. Outra instrumento que tem que marcar comparência é o oud, primo árabe do bandolim.
 


 

Tomatadas

A comida tunisina é muito à base de ovos, com pratos muito simples, que justificam a sua existência meramente como entradas como o kafteji, uma tomatada com especiarias e azeitonas. Outra tomada tunisina, mas com chilli e várias carnes, é o ojja. Já o shakshouka é uma tomatada mais robusta, popular em toda a África do Norte, que leva ainda alcachofra e feijão: no molho de tomate, fazem-se umas crateras para onde estrelam os ovos. Os tunisinos (e, no fundo, os magrebes) também gostam muito de merguez, umas salsinhas com especiarias. Há ainda uma famosa salada fria, a salada tunisina, à base de pepino e de tomate, ambos partidos em cubos, regados com azeite, e envolvidos em alho e cebola, com um toque valente de pimenta. Tudo muito simples e gostoso.
 
 

 

História com vista para o Mediterrâneo

É na Tunísia que está a grande ex-rival de Roma, a antiga cidade fenícia de Cartago, que hoje só tem como actividades a arqueologia e o turismo naquele imenso cenário de ruínas. O Anfiteatro de El Jem, com distinção de Património da UNESCO, foi usado em vários filmes e é um dos estádios romanos melhor preservados. Serviu de muralha contra muitos ataques forasteiros ao longo de eras subsequentes. Mas há mais ruínas, como a antiga povoação romana de Bulla Regia. Mas o peso da história também se faz do Islão, frase que tem como evidência Kairouan, que é uma das grandes atrações turísticas islâmicas, com as suas madraças e mesquitas de imponentes minaretes. Mais longe da reza e mais próximo do prazer está a cidade costeira de Sidi Bou Said, que parece um sonho desenhado por um pintor mas que existe de verdade, com as suas casas brancas, brindadas de pátios sumptuosos e uma vista de sonho para o Mediterrâneo. Fora de mãos humanas, assombram no deserto do Sahara as monumentais dunas de Grand Erg Oriental, que podem fazer de um trajeto de jeep uma experiência sensorial similar à montanha russa. Mas há areais tunisinos mais virados para os banhistas. Na ilha de Djerba, é impossível não mergulhar naquelas claras águas, em praias também frequentadas por dromedários e cavalos.
 
O futebol é o desporto-rei na Tunísia mas é o fundista da natação Oussama Mellouli, o grande desportista histórico do país. Foi campeão olímpico por duas vezes, nos 1500 metros em 2004 e nos 10 000 metros em 2012, além dos dois títulos mundiais. O andebol é a segunda modalidade mais popular no país, com resultados interessantes, como o quarto lugar no mundial de 2005 que organizou, e onde Wissem Hmam foi o melhor marcador da competição.