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Viagem ao Brasil: do samba à picanha

Rumo ao hexa? Não é grande novidade: o escrete brasileiro é um dos grandes favoritos ao título mundial de futebol.

Gonçalo Palma

Pede-se à equipa de Neymar a alegria de um desfile carnavalesco no Catar mas também a capacidade de morder o adversário como se fosse um enxame de piranhas do Amazonas, para que o sonhado hexa se concretize. Se isso acontecer, vai haver festa com muitas caipirinhas. As entradas prometem, porque nenhuma equipa do Grupo G parece ameaçar o atual poderio do Brasil, treinado há seis anos por Tite.

Avassaladores e pouco dados a vassalagem
O brasileiro é por natureza um otimista. Mas no que diz respeito ao timão do país, essa euforia é sustentada pelas goleadas e outras vitórias expressivas, face a equipas que vão estar também no Catar. Os jogos da equipa brasileira têm sido sessões de danças de samba nas comemorações dos muitos golos. A campanha de qualificação para o Mundial foi quase um passeio alegre à volta da América do Sul, sem qualquer derrota, e um primeiro lugar com vantagem de seis pontos face à rival Argentina. Nestes últimos quatro anos, esta formação do Brasil acrescentou mais uma Copa América à sua galeria de troféus, em 2019, e em 2021 ia repetindo a graça, tendo só perdido na final. Os avançados Richarlison (do Tottenham) e o jovem de 21 anos Gabriel Martinelli (do grande rival londrino do Arsenal) fizeram ainda parte da equipa campeã olímpica do ano passado, eles que integram os convocados brasileiros que vão ao Catar. 

As atenções vão estar um pouco mais focadas naquele pequenino avançado do Paris-Saint Germain, chamado Neymar, que continua um traquinas genial, apesar do mau feitio. O estatuto de estrela, que lhe permite ser o marcador dos penáltis pelo Brasil, pode ajudá-lo a bater o recorde histórico de Pelé, como melhor marcador de sempre pela canarinha. Faltam-lhe apenas dois golos para igualar o rei que, tal como ele, era um ídolo do clube Santos. Mas o que permite defender o Brasil como um dos candidatos ao título de campeão do mundo está muito longe de se resumir à imprevisibilidade de Neymar. O escrete tem como dono da baliza um dos melhores guarda-redes do mundo, Alisson, que sabe lançar o seu corpão para qualquer bola junto às suas redes. Na defesa, há uma quantas vigas para sustentar o palco para o samba mais à frente como o polivalente Marquinhos (do Paris Saint-Germain) e o central veterano e de relevância sobrevivente Thiago Silva (do Chelsea). O pentacampeão europeu pelo Real Madrid, Casemiro, estará a dar músculo ao meio-campo do Brasil, agitado mais à frente pelo irrequieto médio ofensivo Lucas Paquetá (do West Ham). Junto à baliza, a fazer mais tropelias, estará o extremo merengue Vinícius Júnior.

Na atual Canarinha, não está nenhum futebolista a jogar em Portugal. Mas vários dos internacionais A presentes no Catar jogaram na nossa liga, como o fundamental Raphinha, que se destacou nos vimaranenses do Vitória e no Sporting, o guarda-redes suplente Ederson (de muito boas memórias para os benfiquistas) e um contingente de ex-portistas como o lateral-esquerdo titular Alex Telles (atualmente no Sevilha), Alex Sandro (há sete anos na Juventus) e ainda o defesa central Éder Militão (Real Madrid), além do já referido Casemiro (que fez parte do plantel dos dragões em 2014-15).

A abundândia de talentos no Brasil é uma constante de há muito. As reservas de luxo estão espalhadas pelo mundo, incluindo em Portugal. Poucas seleções, como o Brasil, se podem dar ao luxo de não recorrer aos serviços de talentos como o polivalente Pepê, o extremo Galeno ou o possante avançado centro Evanilson, se consultarmos o plantel do FC Porto. Ou, mirando a equipa das águias, nunca se pôs a hipótese de chamar um magnífico driblador e rematador como David Neres. De fora das contas, fica também o central benfiquista Lucas Veríssimo, depois de uma longa lesão.    

 

Nota artística
Futebol é samba, é arte, é Brasil. A canarinha era aquela seleção que elevava a nota artística em mundiais. Podia não ser sempre campeã do mundo, mas o futebol mais bonito pertencia sempre ao Brasil. Eram triangulações que trocavam as voltas aos adversários, invenção de novas fintas, toques preciosos, remates em arcos impossíveis para os guarda-redes... Era o esplendor do futebol. O Brasil merecia sempre ser visto.

Quando aquela super-equipa de 1970 foi tricampeã do mundo, foi também o futebol que venceu. Quando aquele Brasil romântico de 1982 foi afastado pela pragmática Itália, foi também o futebol que perdeu. Com o tempo, o jogo da seleção brasileira foi-se tornando assético, europeizado, aborrecido, com pequenas exceções de artistas desobedientes como Neymar. Só passou a restar aquele maravilhoso equipamento amarelo e azul.

Os tempos de Pelé eram perfeitos, quando arte e glória eram parte una. Pelé, o menino de 17 anos, foi o herói do primeiro título mundial, em 1958. Depois de vencer a Suécia por 5-2 na final, o futuro rei do futebol começa a sua coroação quando é levantado em ombros pelos companheiros. Se Pelé chorava sem parar, o capitão do escrete Bellini iniciava um ritual que hoje é comum, ao levantar a taça acima da sua cabeça - tudo por causa dos fotógrafos mais baixinhos, dizia. No Mundial de 1962, Pelé lesiona-se mas está lá Garrincha para brilhar por ele e para fazer do Brasil bicampeão do mundo. Mas é aquela equipa-maravilha de 1970 - Pelé, Tostão, Jairzinho, Carlos Alberto, Rivelino - que todos se lembram, num registo mundialmente inédito de 100% de vitórias em todos os jogos da qualificação e da fase final, concluído com um 4-1 contra Itália e com um meiinho que termina com um remate potente de Carlos Alberto às malhas de Zoff.

Se aquela foi a melhor equipa campeã do mundo, talvez o Brasil de 1982 tenha sido a melhor equipa derrotada de sempre. Zico, Sócrates, Éder e Falcão brindaram o Espanha 82 com um futebol de sonho - em vez de um remate em força, um lento chapéu ao guarda-redes para aquela beleza ser melhor contemplada; a um passe magistral a longa distância, uma conclusão de classe na direção das redes. Cada golo era bem diferente do anterior. Mas cada golo daquele escrete era candidato a melhor golo de sempre. O que podia fazer a União de Soviética de Dasaev? Ou a Escócia de Dalglish e Souness? Ou a Argentina de Maradona? Nada, exceto aplaudir aquela equipa maravilhosa. Para a perfeição, só se esqueceram de uma coisa: não se podia errar contra a Itália de Rossi e Tardelli, sempre à espreita de uma desatenção. A crueldade do futebol de alta competição afastou o Brasil por 3-2. Não foi só o povo irmão que chorou a má sorte.
 
Além se serem hoje a selecção com mais títulos mundiais, cinco ao todo, o Brasil é o campeão olímpico de 2016 e de 2020 e detém nove Copas América e quatro Taças das Confederações. Um autêntico museu! Os clubes brasileiros também conhecem os palanques internacionais. São Paulo FC, Corinthians, Internacional de Porto Alegre, Santos, Grémio de Porto Alegre, o Palmeiras do treinador português Abel Ferreira ou o Flamengo já ganharam tanto no plano continental como no plano mundial. Mas há outros grandes clubes a ter em conta como os cariocas Vasco da Gama, Botafogo e Fluminense; ou o Cruzeiro e o Atlético Mineiro (estes dois últimos de Minas Gerais).
 
O campeonato português tem sido fértil em internacionais brasileiros, como os benfiquistas Valdo, Ricardo Gomes, Mozer ou Luisão, os portistas Branco, Doriva, Jardel e Hulk ou os leoninos Silas e Anderson Polga. Mas é do talento evidente da restante camada que a nossa liga se tem alimentado muito, há mais de trinta anos.

 
Ritmo gostoso
O Brasil é a maior potência musical a seguir aos Estados Unidos. Há poucos países onde tenham nascido tantos géneros. O samba é o coração de muita da música brasileira, bem audível nos grandes desfiles carnavalescos do Rio de Janeiro. Carmen Miranda (1909-1955), de cabeça enfeitada com uma fruteira, foi o expoente hollywoodesco do género brasileiro mais famoso, que já tinha antecedentes no Rio de Janeiro como o arranjador e saxofonista de choro Pixinguinha. As ruas baianas também deram música, sobretudo a percussão nordestina que influenciou diretamente o álbum de Paul Simon, "Rhythms of the Saints" (de 1990).
 
Alguma da classe média carioca encontrou uma forma mais erudita e jazzística de se fazer samba: o bossanova. A sensibilidade de João Gilberto, a elegância de Tom Jobim ou as letras iluminadas de Vinicius de Moraes foram rampa de lançamento para um género internacionalizado por canções como 'Garota de Ipanema' ou 'Águas de Março', que encontrou também a grande voz de Elis Regina, que elevava para um patamar emocional inalcançável composições de alguns dos maiores do MPB (Música Popular Brasileira) como Chico Buarque, Edu Lobo ou Milton Nascimento.
 
Tão politicamente interventivos quanto Chico Buarque e Edu Lobo, os tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil iniciaram nos anos 60 uma obra cancioneira que se mantém viva e fresca ainda hoje. Marisa Monte, Adriana Calcanhotto ou Lenine têm mantido viva a força do MPB, relembrando que o rock também se samba.
 
No rock mais puro e duro, Os Mutantes, onde se destacou Rita Lee, foram uma referência internacional do psicadelismo no final dos anos 60. No começo dos anos 70, foi a vez de aparecerem os Secos & Molhados, onde um cantor muito especial se começa a destacar, Ney Matogrosso. Tal como em Portugal, é nos anos 80 que o rock brasileiro se consolida, muito graças aos Legião Urbana (do performer carismático Renato Russo), os Barão Vermelho (com Cazuza a ocupar a frente do palco nos primeiros anos), os Paralamas do Sucesso ou os Titãs, tudo nomes que, curiosamente, e ao contrário do que costuma acontecer, passaram ao lado do público português. Mas é do nicho do metal que se projetou a banda brasileira mais famosa mundialmente: os Sepultura dos irmãos Cavalera.
 
Perdem-se a conta aos géneros brasileiros, sobretudo aqueles mais populares. A moda da lambada pegou em Portugal no final dos anos 80, tal como nos anos 90 o axé, através de Daniela Mercury. Já a música sertaneja, com aquelas duplas de homens com chapéus de vaqueiros, nunca atravessou como deve ser para este lado do Atlântico. Entre a música mais marginal, nasceu das favelas do Rio de Janeiro o funk carioca que foi fonte internacional para artistas como M.I.A. ou os nossos Buraka Som Sistema. Do Recife, veio nos anos 90 o mangue beat, confluência entre os ritmos pernambucanos do maracatu com o rock, o funk e até o hip hop. Um dos seus grandes cultores foi Chico Science, tragicamente falecido num acidente de viação em 1997.

 
A grande despensa amazónica
A gastronomia do Brasil tem a diversidade do tamanho do seu território (o quinto maior país do mundo), das influências tricontinentais (as cozinhas portuguesa e africana misturam-se com a cultura índia) e até das extremidades sociais. Enquanto os mais ricos tinham acesso a pratos mais europeus e mais sofisticados, a população mais pobre tinha que se contentar com pratos de feijão. Talvez por isso, a feijoada à brasileira seja um prato nacional: uma refeição majestosa de feijão preto com carnes de porco e boi, arroz, farinha de mandioca e sempre uma rodela de laranja.
 
A comida do norte do Brasil herda os hábitos dos escravos africanos, mas com o manancial da natureza amazónica. É no norte que se come vatapá (prato de camarões ou outro peixe num molho com leite de coco, com amendoim, caju, azeite e alho), o mocotó (a que chamaríamos de mão de vaca com grão), a moqueca (cozido de peixe e marisco de influência angolana) ou o caruru (cozido de quiabos de influência africana).
 
Mas no norte também se gosta de carne, e muito. É o caso do pato no tucupí, ex-líbris gastronómico de Belém do Pará, onde se recomenda carne mais dura, a ser embebida num caldo com tucupí (sumo amarelado extraído da mandioca) e as picantes folhas de jambu. No sul, quase que só se come carne. Os churrascos, e os famosos rodízios, são muito populares entre os gaúchos. A grande estrela dos churrascos é a saborosa picanha de vaca que exige o melhor dos cortes no lombo do animal.
 
Descrever a gastronomia brasileira como de influência tricontinental se calhar é pouco, se falarmos dos restaurantes de São Paulo, onde, por via da imigração japonesa, se tornou no epicentro do sushi de fusão. Óleo de palma, colorau e gengibre são muito usados nos vários cozinhados brasileiros. Uma entrada que é hoje muito popular em todo o Brasil é o pão de queijo: bolinhas que parecem biscoitos e que têm origem em Minas Gerais .
 
Nas sobremesas, o bolo de fubá, feito com farinha de milho, marca presença em numerosas mesas. Mas muita da doçaria é à base de coco, como os omnipresentes olhos de sogra ou as ambrósias (para quem gosta de doces concentrados). Este fruto levado pelos portugueses refresca muitos brasileiros: é muito habitual beber-se água-de-coco numa praia com palhinha diretamente do fruto. A imensidão de frutas fornece uma grande diversidade de sucos. Muitos nem sequer conhecemos. Outros sim, como o abacaxi, a manga, o maracujá, a goiaba ou a papaia. O açaí é dos mais conhecidos, tratam-se de bagas da Amazónia de onde se extrai a polpa e origina um popular refresco em todo o Brasil. A Amazónia é também fonte do refrigerante brasileiro mais famoso, e já muito consumido por cá, o guaraná, nome da planta em que tem base. Mas a bebida mais famosa e saborosa é um cocktail. Falamos, pois claro, da caipirinha, um lindíssimo e embaciado copo com cachaça, lima cortada (obrigatoriamente bem espremida no almofariz), açúcar amarelo e gelo quebrado, misturado e sorvido por duas meias-palhinhas. A caipirinha tem originado muitas derivações (caipirão, caipiroska, morangoska) mas não há nada como o clássico.

 
O sotaque que já não estranhamos
O Brasil costuma frequentar as nossas casas desde 1977, quando se estreou na nossa TV a primeira telenovela brasileira, "Gabriela". Desde então os portugueses familiarizaram-se com expressões do povo irmão como "gatinha", "legal" ou "todo o mundo". Tony Ramos, Fernanda Montenegro, Lima Duarte, a lindíssima Maitê Proença ou António Fagundes tornaram-se rostos familiares por cá. Acompanhou-se com emoção o drama de prefeito Odorico Paraguaçu em não conseguir inaugurar o cemitério local com um óbito n'"O Bem-Amado", ou o regresso a Asa Branca do seu suposto mártir, afinal vivo, "Roque Santeiro". As produções da Globo também animaram as manhãs da criançada, com a série de personagens surrealistas "Sítio do Picapau Amarelo". Nos anos 80, aos fins-de-semana, não passavam telenovelas, mas havia o "Viva o Gordo", quando o humorista Jô Soares se dedicava mais a séries de sketches do que a talk-shows. A grande sitcom brasileira a chegar cá na década seguinte foi "Sai de Baixo", onde Miguel Falabella era a grande estrela. Mas nos últimos anos, os portugueses têm-se rido mais na internet através da Porta dos Fundos, a plataforma humorística liderada por Gregório Duduvier e Fábio Porchat - eles que são alguns dos críticos mais inteligentes da sociedade brasileira atual e da religião.

Entre a grande produção audiovisual brasileira, destaca-se há muito o seu cinema. O oscarizado "Orfeu Negro" (de 1959) levou à grande tela o samba carnavalesco das favelas do Rio de Janeiro. Poucos anos mais tarde, os cinéfilos de todo o mundo sofreram com o homem que carregava uma cruz como uma promessa em Salvador de Bahia, no Palma D'Ouro "O Pagador de Promessas" (de 1962). Os novos ares dos anos 60 também se fizeram sentir no Cinema Novo, sobretudo através da filmografia de Glauber Rocha.

O drama da criminalidade das ruas e favelas das grandes cidades brasileiras inspirou alguns filmes marcantes que apaixonaram o mundo como "Pixote" (de 1981), de Héctor Babenco, ou "A Cidade de Deus" (de 2002), de Fernando Meirelles, realizador da adaptação do livro do luso José Saramago, "Ensaio Sobre a Cegueira". Mas em termos de escritores brasileiros, nenhum inspirou tantas produções televisivas e cinematográficas como Jorge Amado (1912-2001): muitas das suas obras foram adaptadas como "Tieta do Agreste" e "Gabriela, Cravo e Canela". Se na prosa, Amado foi um dos maiores, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) dominou na poesia. A existencialista Clarice Lispector (1920-1977) e o mais experimentalista João Guimarães Rosa (1908-1967) foram dos que mais inventaram na escrita da língua portuguesa. Já junto da classe infantil, os livros aos quadradinhos da Turma da Mónica narraram as aventuras no bairro do Limoeiro.

Oscar Niemeyer (1907-2012), com a sua arquitetura modernista, esculpiu uma nova capital, Brasília, além de outras obras de arte, isto é, edifícios fabulosos, pelo resto do Brasil. Entre a arquitetura bem menos moderna, cidades coloniais portuguesas continuam impecavelmente preservadas como Parati, Olinda, e com a classificação de Património Mundial da UNESCO, Ouro Preto e a grande Salvador da Bahia. As suas calçadas, igrejas, basílicas, palecetes e casas brancas lembram um Portugal de um outro tempo.

Rio de Janeiro, que chegou a ser praticamente a capital do império ultramarino português depois das invasões napoleónicas, é a grande cidade do mundo que se faz de sandálias, sempre com uma praia por perto, incluindo a famosa língua de areia de Copacabana. Do alto do Corcovado, a estátua de Cristo Redentor olha para todos os cariocas como o seu guardião; enquanto do lado do chão, todos vêem o pico rochoso do Pão de Açúcar. Mas em sete mil quilómetros de costa brasileira, não faltam praias mais calmas, ou um pouco mais calmas, como a paradisíaca praia de Porto de Galinhas (em Pernambuco), com as suas águas cristalinas, um areal infinito e um aquário de piscinas naturais coladas ao mar. Mas se querem mais monumentos aquáticos, basta salpicarmo-nos com as fortíssimas Cataratas de Iguaçú, junto à fronteira com a Argentina. Uns milhares de quilómetros bem mais a norte, está a floresta maior do mundo, a fascinante e perigosa Amazónia, com uma biodiversidade de milhões de espécies, muitas delas venenosas, como os sapos, cujas toxinas eram aproveitadas para as pontas das setas dos índios, que propagaram as camas de rede, para se livrarem dos seres rastejantes durante o sono. Num país rico em felinos, o mais principesco é o jaguar. As piranhas, com os seus dentes bem afiados, são o terror do rio Amazonas (e de outros afluentes), enquanto que os caimões (da família dos crocodilos) ou as enormes anacondas ameaçam qualquer aventura num pantanal. Vários canídeos também provam a específicidade da biodiversidade brasileira mas são pouco recomendáveis para se ter numa quinta, como os lobos-guará ou as raposas-brasileiras (no Mato Grosso). Há ainda numerosos tipos de símios, sobretudo na Amazónia. Já as preguiças, as capivaras ou os tatus parecem bem mais amigáveis.
 
No desporto, os brasileiros têm-se dado bem com os bólides da fórmula 1. O mais querido entre nós foi sem dúvida Ayrton Senna, tricampeão do mundo (em 1988, 1990 e 1991), que começou cedo a criar empatia com os portugueses quando ganhou o seu primeiro Grande Prémio de sempre no Autódromo do Estoril, numa tarde chuvosa de 1985. Senna podia ser muito popular mas Nelson Piquet ganhou tantos títulos mundiais quanto ele (em 1981, 1983 e 1987). Mas o primeiro campeão do mundo de Fórmula 1 brasileiro foi Emerson Fittipaldi (o mais pontuado de 1972 e 1974). O voleibol é outro desporto onde os brasileiros mostram a sua grandeza, sobretudo a seleção masculina, que já amealhou três títulos mundiais e três títulos olímpicos. Há ainda um domínio quase absoluto do campeonato sul-americano: em 32 edições, o Brasil ganhou 31! A paixão pelo volei é tal que inventaram alguns desportos de parentesco próximo, como o piribol, que é uma espécie de vólei aquático, ou a peteca, que mistura volei com badminton, jogando-se com as mãos uma pena (de inspiração índia) e com uma rede pelo meio. Este gosto pelo vólei foi levado para as praias, onde criaram o futevólei (muito jogado pelo ex-futebolista Romário) e se tornaram uns dos melhores do mundo no vólei de praia (apesar de ter aparecido nos Estados Unidos). Nas praias brasileiras nasceram também outros desportos como o frescobol, espécie de paddle mas sobre areia. Também nos desportos de combate, há um cunho autoral brasileiro como a capoeira e o jiu-jítsu brasileiro, já praticados nalguns ginásios e parques em Portugal. Praias é mesmo com os brasileiros, seja no areal, seja em cima das ondas, com alguns dos grandes surfistas como os recentes campeões do mundo Gabriel Medina (em 2014, em 2018 e 2021), Adriano De Souza (em 2015), Filipe Toledo (neste ano) e o primeiro campeão olímpico da modalidade, Ítalo Ferreira (campeão do mundo em 2021). Sobre mar mais longe da costa, o Brasil tem tido alguns campeões olímpicos de vela, como Robert Scheidt & Torben Grael ou, mais recentemente, a dupla Martine Grael & Kahena Kunze, todos eles com duas subidas ao lugar mais alto do pódio, tantas quanto as de Adhemar da Silva, bicampeão olímpico no triplo salto em 1952 e 1956. A impressionar com a sua imensa agilidade física tem estado a campeão olímpica e mundial de ginástica artística Rebeca Andrade, já uma das maiores figuras de sempre do desporto brasileiro.