Pearl Jam: 30 anos de história(s). E que histórias!
A 22 de outubro de 1990 os Pearl Jam subiram a um palco pela primeira vez. Onde? No Off Ramp Cafe, bar situado na velha e carismática Seattle, o lugar encantado e de culto para os seguidores convictos da cena grunge que, nos anos noventa, não só arrebatou estados de espírito como confortou as diabruras da existência em camisas de flanela.
Ainda não eram os Pearl Jam que estavam a arriscar no palco. Eram os Mookie Blaylock, uma banda despretenciosa e honesta que renascia dos Mother Love Bone depois da trágica morte do vocalista Andrew Wood.
No palco, os postos eram praticamente os que são hoje. Stone Gossard ao comando da guitarra, Jeff Ament no baixo, Mike McCready também nas proezas da guitarra e um tal de Eddie Vedder, um surfista carismático, de alma fértil e coração gentil, que vinha de San Diego para tentar a sorte como vocalista na mais sorumbática Seattle. Na altura era Dave Krusen quem assumia o posto da bateria, agora entregue a Matt Cameron. O libertador 'Release' foi o primeiro tema que se soltou do pequeno, porém histórico, alinhamento.
Mais tarde, o quinteto mudou o nome para Pearl Jam. Esses mesmo. Os que agora são os veteranos e consistentes Pearl Jam. Aquela banda que tem qualquer coisa que não se explica. O resto é história. Ou melhor, são histórias. E há tantas. Foi por isso que quisemos dar voz aos fãs. Nem nos vamos alongar muito na escrita porque o que importa hoje é ouvi-los. O João cantou com o Eddie Vedder num bar minúsculo no Cais do Sodré, em Lisboa, e Ana esbarrou com ele num passeio turístico em Barcelona. A Heidi fez tudo o que podia (e não podia) para não perder o concerto de 1996, no saudoso Dramático de Cascais, mas a Rita, a pobre e azarada Rita, já não conseguiu ir porque foi roubada. A Catarina recebeu uma pandeireta e um abraço suado do Eddie Vedder no Passeio Marítimo de Algés e o Fernando ia ficando apeado na estrada para ir ver os Pearl Jam, a todo o gás, a Madrid. O Armando chorou que se fartou a ouvir a 'Black' e o João soube o que era paixão numa loja de discos. O André seguiu-os para longe mas teve a preocupação de partilhar as alegrias de fã com quem ficou por cá.
Vamos por partes, por histórias. O Armando Luís, rapaz dos Açores, abriu-nos o coração - coração esse que aos 12 anos, pelos vistos, já estava partido. Só por isso damos-lhe a honra de abertura desta espécie de fanzine improvisada. A primeira vez que o Armando chorou a ouvir uma canção foi com a 'Black' - a baladona do seminal "Ten" de 1991. O que é que podemos dizer ao Armando? Quem nunca, Armando.
Por falar na dorida 'Black', o João Mestre foi um dos protagonistas do "mito urbano" que andou algum tempo a circular nas conversas entre os fãs dos Pearl Jam. O "mito" afinal não era mito nenhum. A história é bem real e aconteceu em 2000 quando a banda de Seattle tocou no Estádio do Restelo, em Lisboa, no âmbito da digressão do disco "Binaural". Contou o João que, além de ter estado a beber um ou dois copos com o frontman Eddie, ainda foi a casa - numa correria louca e desenfreada - buscar a guitarra para tocar, pasmem-se os menos crentes, com o homem dos Pearl Jam. Final na história: cantaram todos juntos numa rua do Cais do Sodré em Lisboa. Um ou dois brindes a isso!
Em 2018, a trintona Ana Pinho fez a viagem que sempre quis. E, atenção, já era um desejo antigo, com algum pó e resgatado epicamente dos confins da adolescência. A intenção já tinha alguns anos, mas, pelo que a Ana nos contou, a vontade de acompanhar uma digressão dos Pearl Jam materializou-se no timing certo. Tão certo que até pareceu uma combinação dos deuses. Se tivesse sido noutra altura, talvez não tivesse esbarrado sem querer com... o Eddie Vedder. Nesta história, o encontro foi "numa esquina" de Barcelona.
A Catarina Coutinho, fã fiel da Amadora, contou-nos duas histórias. Recordações em dose dupla. Uma remonta a 1996 e a outra, mais recente, a 2007, ano em que os Pearl Jam atuaram pela primeira vez no Passeio Marítimo de Algés, ainda no tempo do Optimus Alive. Soubemos que para conseguir ver o concerto em Cascais - o primeiro da banda em Portugal - a Catarina "colou-se" aos Santos e Pecadores. Sim, leu bem, aos Santos e Pecadores. Já no concerto de Algés, uns bons anos depois, quem se "colou" à Catarina foi, imagine-se, o próprio Eddie Vedder.
A Heidi Melro, hoje com 42 anos, até pode ter visto a Catarina e os seus novos amigos, os Santos e Pecadores, na inquieta plateia de Cascais, é certo, mas os olhos desta fã ansiosa pelo primeiro concerto dos Pearl Jam estavam mais direcionados para a zona do palco. A Heidi, fã originária de Aveiro, até trouxe os pais a Lisboa para conseguir assegurar alojamento nas redondezas.
A Rita Branco, fã que nesta nossa fanzine representa a cidade de Faro, não teve a mesma sorte. Aliás, a Rita não teve sorte nenhuma. É que, dias antes do concerto, roubaram-lhe a mala. A mala e o sonho de ver os Pearl Jam ao vivo pela primeira vez na sala de Cascais.
Isto no amor "não há longe nem distância", como se costuma dizer. Em 2007, o Fernando Cardoso foi a Madrid ver os Pearl Jam. Consigo levou o amor pela banda e o melhor amigo. Para Espanha os dois aventureiros do rock n' roll pueril e aguerrido foram a todo o gás, mas, já no longo e demorado regresso a Portugal, iam ficando sem gasolina.
O João Pedro Cardeal ainda fica com a voz trémula quando lembra o momento em que ouviu Pearl Jam numa loja de discos em Lisboa. Como nos disse, foi magia... e, a bem da verdade, a magia é um fenómeno recorrente quando envolve os cinco bons rapazes de Seattle.
O André Amores fecha esta fanzine com uma declaração de amor(es) aos fãs de Pearl Jam. Fãs tão fiéis e dedicados como a banda que celebramos hoje, de sorriso bem aberto, refrões existenciais na boca e mãos unidas no ar.
Para assinalar os trinta anos da primeira atuação, os Pearl Jam anunciaram a transmissão de um concerto que deram a 29 de abril de 2016, em Filadélfia, Estados Unidos. O início do streaming do concerto está marcado para hoje, dia 22 de outubro, na nugs.tv. O concerto, que durou três horas e contou com todas as canções do "Ten" no alinhamento, vai estar disponível até dia 25, mediante a aquisição de bilhetes.
