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Silvia Mendes
18 fevereiro 2021, 11:25
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Luca Argel: "a matéria-prima da criatividade é a própria vida"

Luca Argel: "a matéria-prima da criatividade é a própria vida"
Kristallenia Batziou
Silvia Mendes
18 fevereiro 2021, 11:25
"Samba de Guerrilha", o mais recente disco do cantautor carioca, radicado em Portugal há quase 10 anos, foi editado esta quarta-feira.



O cantor, compositor e escritor brasileiro editou esta semana "Samba de Guerrilha" - disco que chega depois de "Conversa de Fila" (2019), "Bandeira" (2017) e do mais experimental "Tipos Que Tendem Para o Silêncio" (2016).

O novo álbum chega com o conceito ópera samba e serve dois propósitos: contar a história centenária do samba e prestar-lhe uma justa homenagem.

Com o novo disco, Luca Argel, que vive no Porto há quase 10 anos, percorre a história do género, um dos elementos culturais mais importantes do Brasil, com recurso a múltiplas expressões artísticas como a música, a narração, a ilustração e a poesia. A narração é de Telma Tvon, a ilustração de José Feitor e poesia de sambistas que Luca Argel quis homenagear com o disco, o primeiro de versões lançado pelo artista carioca.

"Samba de Guerrilha" está disponível nas plataformas digitais e também foi editado em formato de jornal.

Antes da boa conversa com o músico, fica uma breve contextualização do disco cuja génese remonta a 2016:

"'Samba de Guerrilha' é um projeto que começou em 2016 e cresceu durante 5 anos até se transformar em disco. Nasceu como um concerto-workshop sobre a história política do samba. Fora dos palcos, este conceito desenvolvido por Luca Argel tomou a forma de artigos escritos, seminários, programas de rádio, até finalmente se efetivar num 4.º álbum do cantautor - e o primeiro de versões. "Samba de Guerrilha" é uma viagem no tempo, onde conhecemos histórias e personagens do combate ao racismo, à escravidão e às desigualdades. Ouvimos a narrativa em forma de samba, mas um samba que, desta vez, está permanentemente a testar os limites das suas possibilidades musicais, um samba reinventado, eletrificado, nascido a um oceano de distância da tradição. Entre clássicos e jóias pouco conhecidas do repertório do género, dois singles já foram apresentados e os restantes temas são todos eles versões de sambas já existentes mas que, juntos neste trabalho, contam a história deste género musical", diz o comunicado que nos chegou às mãos. 
 

Como é que estás a viver estes tempos estranhos? Esta sensação de suspensão da vida, devido ao confinamento, está a afetar o teu impulso criativo?

Sim, está. Afeta, com certeza. Isto da criação é algo muito curioso. Durante o primeiro confinamento, tive momentos muito positivos e de muita criatividade, mas também tive outros em que não surgia nada, nenhuma ideia, nenhum tipo de inspiração. Acho que não temos muito controlo sobre isso. Por mais que tenhamos todo o tempo do mundo para criar, se estivermos num contexto que não nos estimula [criativamente], fica mais difícil. Gosto de estar em contacto com o mundo para poder criar. Preciso de ver pessoas, de ver coisas, de ter experiências. É dessas experiências que, ao fim e ao cabo, vamos construindo as nossas invenções. A matéria-prima da criatividade é a própria vida. Quando estamos privados de uma parte muito importante da vida, como o convívio com outras pessoas, isso acaba por afetar a criatividade.

Nasceste no Rio de Janeiro mas vives no Porto há quase dez anos. Porque é que decidiste vir para Portugal?

Foram as circunstâncias. Não foram escolhas muito conscientes. Vim para Portugal com a ideia de ficar cá a estudar durante um ou dois anos mas não conhecia nada do país. Não tinha referências suficientes para poder escolher com consciência. Tinha um amigo que vivia cá, no Porto, e fui-me aproveitando das circunstâncias. Ele foi a pessoa com quem dividi casa quando cheguei e acabou por ser um ponto de apoio importante na minha adaptação a Portugal. Começámos a construir coisas, formámos um grupo de samba. Fui-me envolvendo e enraizando por aqui. Só há cerca de dois, três anos é que comecei a ir a Lisboa com mais frequência. Agora já tenho esse hábito, acabei por criar muitos laços com a cidade. A minha agência e os meus parceiros estão em Lisboa. Surgem muitos trabalhos aí e também tenho muitos amigos na cidade. Até ao início da pandemia andava muito lá e cá. Agora ando mais por cá.  

Estudaste Literatura de Língua Portuguesa na Universidade do Porto e sei que o teu interesse pelas letras é uma paixão antiga...

É um interesse que esteve sempre presente na minha vida, mesmo quando frequentava a Faculdade de Música [no Brasil]. Já no secundário gostava muito de ler e escrever. Dentro da Literatura, gosto muito de poesia. 

Começaste a escrever muito cedo...

Sim. Comecei a escrever cedo e a publicar livros relativamente cedo. Publiquei o meu primeiro livro aos 23, 24 anos. Aliás, foi no ano em que vim para Portugal. Publiquei o livro no Brasil no primeiro semestre e no segundo estava em mudanças para cá.

Escrevias sobre o quê? Lembras-te dos teus primeiros escritos?

Eu procurava inspiração nas coisas que estava a ler na altura ou em coisas que os meus amigos me diziam. Coisas do quotidiano. Acho que isso não mudou muito. As situações do quotidiano continuam a ser a fonte da minha inspiração. [Inspiram-me] coisas que oiço na rua, conversas de desconhecidos. São pequenos apontamentos que aparentemente não têm importância mas que dão bom material literário. 

És um observador da vida...

Sim, sou um observador. No "Conversa de Fila", o álbum que lancei em 2019, usei bastante esse tipo de inspiração. As pequenas situações do quotidiano transformam-se em coisas muito especiais quando viram poesia.

Achas que os lugares mudam a criação ou a forma de observar? Ou é a maturidade, a experiência? Ou ambos?

Acho que são as duas coisas, mas o sítio onde estamos a viver influencia muito o processo de criação. Isto vai ao encontro do que disse antes. Se existe uma fonte de inspiração, essa fonte está na vida. O sítio onde estamos a fazer a nossa vida acaba por arranjar forma de contaminar o que  produzimos, a forma como pensamos, como nos expressamos e as palavras que usamos. Por exemplo, há palavras que só comecei a usar quando vim para Portugal. São palavras que já conhecia mas não faziam parte do meu vocabulário. Apesar de falarmos a mesma língua, há diferenças e variações. Agora que vivo em Portugal sinto-me mais à vontade para me apropriar das variações mais específicas do português que se fala aqui e até de misturar os dois. Só isso muda bastante a escrita. 
 


Em relação ao processo de composição, seja na escrita ou na música, demoras muito tempo a polir o que estás a criar ou é um processo mais imediato? Também podem ser ambos, dependendo do momento...


Pois é. Depende bastante. (risos) É um pouco misterioso. Comigo varia muito. Há canções que escrevo em pouquíssimo tempo. Quando tenho uma ideia e disponibilidade para começar a trabalhar sai tudo de uma vez. Em 20 minutos fica tudo feito. Parece até que [a canção] está pronta na cabeça e só falta mesmo passá-la para o papel. Noutras ocasiões demora muito mais tempo. Há canções que demorei anos a terminar. Ainda não percebi quais são os critérios ou os elementos que fazem com que a criação aconteça mais rápido ou mais devagar. Não sei se são momentos, se é uma coisa minha ou se é da própria natureza da criação. Ainda é algo misterioso para mim.

O Caetano Veloso, que é uma grande referência para ti, disse o seguinte sobre o processo de composição: "as músicas vão dizendo coisas. O próprio fazer da canção acaba por nos levar para uma outra coisa que ainda não tínhamos imaginado". Identificas-te com isto?

Sim. Completamente. Subscrevo completamente o que o Caetano Veloso diz. (risos) É mesmo isso. Às vezes, quando começamos a escrever uma canção, temos plena consciência do que estamos a fazer porque queremos transmitir uma determinada mensagem, mas, noutras alturas, é a canção que se apresenta à nossa frente sem que a gente perceba muito bem de onde veio. É a própria canção que nos conduz. Quase como se fôssemos vetores de algo maior que está a querer expressar-se de alguma forma. Por vezes estas duas formas de compor misturam-se. A canção começa a ser feita com uma determinada ideia, mas acaba por seguir caminhos inesperados. Não sei se é o caso do Caetano Veloso, mas acho que isso acontece mais a quem tem por hábito escrever a letra e a música ao mesmo tempo. Varia muito de caso para caso, mas eu gosto de fazer tudo ao mesmo tempo. Parece que as palavras já têm uma certa musicalidade embutida. Quando não existe uma melodia pré-definida, há mais liberdade para que as palavras se autosugiram para irem fazendo as linhas melódicas por vontade própria

Qual é que pode ser o alcance da palavra, sobretudo nesta realidade comunicacional tão imediata?

A palavra é uma arma muito poderosa. É o meu principal instrumento de trabalho. Penso nas coisas muito em função do uso da palavra. É fascinante. A palavra e a linguagem conseguem materializar ideias muito abstratas. Só com a palavra conseguimos compreender conceitos muito complexos e ainda transmiti-los aos outros. A arte, a literatura e as canções transmitem sentimentos com as palavras. Estamos a viver na era em que mais se lê, mas não necessariamente livros. Estamos permanentemente em contacto com o texto nas redes sociais. É quase contraintuitivo. Passamos o dia a ler sem nos darmos conta que é uma atividade de leitura, mesmo que o nível de concentração seja muito diferente daquele que precisamos para ler um livro. Sinto que a palavra está cada vez mais omnipresente, mas também é mais perigosa. A palavra e a tecnologia podem ser usadas tanto para o bem como para o mal. Podem ser usadas para espalhar mentiras, para ferir outras pessoas ou para cometer violência. É uma responsabilidade muito grande. Trato a palavra com um enorme sentido de responsabilidade. 

Esse cuidado com a palavra também se reflete no teu novo disco "Samba de Guerrilha", um álbum que conta a história do samba. Li numa entrevista que a tua vinda para Portugal fortaleceu a tua ligação com o samba. É um efeito natural da distância?


Sim. Quando olhamos de longe para a nossa cidade ou para o nosso país ganhamos uma perspetiva diferente. Começamos a ver coisas que antes não víamos. Isso acontece porque descobrimos pontos de referência e de vista novos. Isso aconteceu comigo. Comecei a olhar para o samba de outra forma. Quando vivia no Rio de Janeiro, o samba era algo que estava muito presente, muito banalizado. E não digo isto num mau sentido. Era um elemento cultural do dia a dia, um dado adquirido. Estar aqui, em contacto com uma realidade onde o samba não tem essa presença tão forte, fez-me perceber que é único e especial. Talvez só tenha começado a tocar samba por ter vindo para Portugal. Aqui senti que o que estava a fazer era algo muito diferente e único.

Além de uma homenagem ao samba, este "Samba de Guerrilha" chega na forma de ópera samba. Porquê esta opção? É um álbum diferente dos teus outros discos...


É super diferente, sim. Eu tinha vontade de misturar géneros. Tinha vontade de misturar o samba, que é o género com o qual costumo trabalhar, com outros géneros dos quais também gosto muito, como é o caso do rock n' roll ou da música eletrónica. Já tinha vontade de fazer isso há algum tempo. Também queria contar a história do samba. Queria mostrar o que é que significa às pessoas que não têm tanta familiaridade com este género musical. Em Portugal, [esse desconhecimento] é mais comum do que no Brasil. Queria mostrar o que é que o samba simboliza cultural e socialmente. Tentei mostrar que é um elemento cultural que vai muito além da música, da festa ou do carnaval. Existe uma visão estereotipada do samba fora do Brasil que eu tinha vontade de "atacar". Tentei aprofundar um pouco, alargar os horizontes e a forma como as pessoas olham para o samba. Estar em Portugal deu-me a oportunidade de fazer isso para o público português. Ao mesmo tempo, é uma homenagem pessoal que faço ao samba que foi muito importante para mim e para o meu desenvolvimento. Foi fundamental fazer e estudar samba aqui em Portugal. Apesar da distância, é um género musical ao qual devo muito, em matéria de crescimento pessoal e profissional. É o tributo que lhe estava a dever

Quando estava a ouvir o disco lembrei-me que seria interessante pô-lo a tocar numa aula de História, por exemplo. Pensas nisso, na forma como a música pode ser pedagógica?

Sim, com certeza. Um dos objetivos do "Samba de Guerrilha" é pedagógico. É uma vontade explícita. Pode ser material didático para quem quiser utilizá-lo dessa forma, em aulas, por exemplo. Antes de vir para Portugal era professor de música no Brasil. Trabalhei muitos anos como professor, desde que terminei a faculdade. Tenho essa veia de educador, de professor. Gosto de explicar e de ensinar. Este trabalho é também um momento de realização da minha vocação de professor que tem estado adormecida nos últimos anos. 
 



O que é que te fascina mais na história do samba?


O que mais me fascina é o samba ter surgido como uma estratégia de sobrevivência de uma comunidade. A música foi usada para promover coesão social e para fortalecer laços entre as pessoas. Falo dos laços de amizade entre as pessoas, mas também dos laços entre as pessoas e o seu território e os seus espaços. Os laços com as casas e os bairros. É uma função que o samba exerce até aos dias de hoje e que foi determinante para a sobrevivência dessas pessoas. O samba nasce como música de negros, de pobres e de suburbanos. Na altura havia um estigma muito grande em relação à cultura afro-brasileira. Não só em relação ao samba mas também em relação à capoeira ou às religiões afro-brasileiras. Essas comunidades sofreram muito com a discriminação que foi fruto da História do país, da escravatura. Para que essas pessoas conseguissem sobreviver na fase pós-escravatura, quando foram abandonadas pelo poder público e ficaram sem qualquer tipo de apoio, tinham de contar umas com as outras. Era muito importante que estivessem organizadas coletivamente, contando com o apoio mútuo, com a ajuda do vizinho, de uma amigo. Era uma comunidade mobilizada em favor de si própria, dos seus membros. Apesar de o samba não ser a única coisa que promoveu essa coesão, foi um elemento muito importante para que a união acontecesse. É isso que acho fascinante na história do samba. 

Na faixa 'Guerrilha' há uma frase que achei útil para esta conversa: "as histórias que o samba conta abrem frestas no pensamento". Como é que a história do samba pode inspirar as lutas sociais, sendo que a luta, a união e a resistência continuam a ser necessárias...

Sim. Absolutamente necessárias. O que os sambistas disseram em várias composições, não só nas que eu uso no álbum mas em tantas outras que não consegui incluir no disco, foi uma lição de resiliência e de resistência, mas não só - já que a ideia de resistência implica uma ação que vem de fora. A verdade é que o samba também é positivo e criativo. É um ato de criação, de criação de esperança, de felicidade, de momentos de descontração. Muitas vezes subestimados os momentos que temos para nos divertirmos ou para estarmos com as pessoas de quem gostamos. Falo daqueles momentos que não são para produzir, trabalhar, militar ou protestar. São momentos muito importantes para recuperar o fôlego para depois voltar à luta. Acho que, por vezes, o samba é mal compreendido. É tido como um género de diversão alienada. Não é nada disso. O samba sabe muito bem o que faz até porque existe há mais de um século. É o espaço ideal para vivermos esses tais intervalos de alegria num mundo que está tão voltado para a tristeza, para o sofrimento e para as dificuldades.

Foi fácil escolher o alinhamento do disco? Presumo que não...


Não foi fácil. (risos) Foi muito difícil. Fiz uma playlist no Spotify com todas as músicas que achava que podiam fazer parte do álbum. Eram mais de 50, tive de escolher apenas 10. Acabei por ter de inventar os meus critérios [de seleção]. O primeiro critério foi o de escolher músicas que pudessem facilitar a compreensão da história. Escolhi canções que se encaixassem o mais possível naquele momento específico da narrativa. O outro foi selecionar músicas com as quais pudesse fazer um arranjo diferente. No "Samba de Guerrilha" a proposta foi a de gravar o repertório de uma forma muito pouco convencional, misturando os vários géneros. Misturar o rock com instrumentos eletrónicos, por exemplo.

Essa é a tua identidade como artista, certo? Não gostas de ficar fechado em rótulos ou de estar rodeado por muros musicais…

Sim, sim. Com certeza. É um reflexo total da minha identidade, da minha personalidade. Há certos sambas que são tão perfeitos nas gravações originais que acaba por ser difícil imaginar uma forma diferente de tocá-los. Há outros que não. Existem sambas que quando os escutava imaginava outras possibilidades musicais. Foi com esses sambas que consegui imaginar possibilidades diferentes de arranjos. Foi também por isso que decidi incluí-los no disco.

Pelo que já li sobre ti, parece-me que esse desprendimento de rótulos vai ser para toda a vida...


Sim. Também acho. (risos)

Gostas de ter sempre um conceito bem definido no ponto de partida para os discos, além de que este "Samba de Guerrilha" resulta de uma série de experiências que tens acumulado nos últimos anos. Como é que foi o processo criativo deste álbum?

Este disco nasceu muito antes de eu saber que iria resultar num disco. Em 2016, comecei a compilar as músicas e as histórias para montar um espetáculo, o qual apresentei várias vezes, sozinho e com um violão. Só passados alguns anos, quando o guião do espetáculo estava mais amadurecido, é que resolvi adaptá-lo a um álbum. Gosto de pensar em todos os meus projetos como conceitos. Gosto que haja coerência entre todas as músicas do disco. Acho que é algo que se está a perder hoje em dia. Atualmente pensamos mais na dimensão do single, do videoclipe do que propriamente na dimensão do disco. Um álbum acaba por ser apenas uma compilação de singles com mais umas músicas para preencher o espaço que falta. Eu penso ao contrário. Primeiro penso no conceito do álbum e só depois é que vou ver quais as músicas que encaixam nesse conceito. Quando estou a escrever uma canção já tenho um conceito de disco na cabeça. Tenho várias pastas no meu computador que são hipóteses de álbuns. Quando termino uma canção coloco-a na pasta onde acho que encaixa com uma determinada ideia para um disco. (risos)

Este disco também é editado como um jornal. O "Samba de Guerrilha" tem canções, narração e ilustração. Como foi unificar todos estes universos artísticos?

Sim. O projeto também tem uma face gráfica. A edição física do álbum é o jornal. A ideia foi aproveitar a realidade atual, em que grande parte da música não circula através dos discos físicos mas sim através da internet e das plataformas de streaming. Hoje em dia não é muito difícil prescindir desses suportes físicos, porém, eu sou adepto de ter o objeto. Quando gosto de um álbum gosto de tê-lo em objeto. Acho que uma boa parte do público gosta de ter essa relação mais tátil com a música. O que ofereço neste projeto é um jornal. É um formato que até pode simbolizar ou fazer alusão às liberdades de imprensa e de expressão. São liberdades que, em alguns episódios das histórias que conto no disco, foram atacadas. É uma homenagem a essas liberdades. Por outro lado, já que as palavras são o elemento principal do "Samba de Guerrilha", com este formato acabam por ser as grandes estrelas. O jornal dá-lhes esse destaque não só com o texto que é narrado ao longo do disco mas também com as letras das músicas. Além das palavras, o jornal também tem ilustrações do José Feitor que são um complemento muito bonito das histórias.

Ainda não conseguimos prever a data de abertura das salas de espetáculo, mas, quando isso acontecer, já tens alguma ideia de como vais apresentar este disco?

Não tenho a menor ideia. (risos) É uma coisa na qual penso todos os dias, mas ainda não tenho uma ideia concreta. Estou a evitar criar muitas expectativas porque não sei quando é que vou poder ir para o palco e em que condições. Tenho algumas ideias. Sei que vai ter de ser um espetáculo com banda. Não vai ser tão minimalista como os espetáculos que tenho feito até hoje. Só não sei como é que vai ser na prática. Ainda não sei qual será a formação, o cenário, a luz, os músicos, o repertório. É um mistério.