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Agência Lusa
05 março 2021, 15:10
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PCP: Cronologia do partido que faz 100 anos

PCP: Cronologia do partido que faz 100 anos
ANTÓNIO PEDRO SANTOS / LUSA
Agência Lusa
05 março 2021, 15:10
O Partido Comunista Português é o mais antigo dos partidos portugueses. Faz 100 anos este sábado.

Seleção de datas sobre a história do Partido Comunista Português (PCP), o mais antigo dos partidos portugueses com 100 anos, cruzando-as com acontecimentos nacionais e internacionais.

 

1848

É publicado o Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friederich Engels.

 

1910

05 de outubro – Implantação da República, em Portugal.

 

1914

Começa a I Guerra Mundial. Reino Unido, França e Rússia defrontam Alemanha, Áustria e Turquia.

 

1917

Outubro – Revolução russa. Tomada do poder na Rússia pelos bolcheviques, de Lenine.

 

1919

Março - É fundada a III Internacional Comunista (Comintern), por Lenine e Trotski.

 

Setembro - Fundação da Federação Maximalista Portuguesa (FMP), organização-mãe do comunismo em Portugal, por Manuel Ribeiro. A FMP reagrupava os primeiros sovietistas portugueses. Editava o semanário "Bandeira Vermelha".

 

1921

06 de março - Fundação do Partido Comunista Português (PCP), na sede da Associação dos Empregados de Escritório, em Lisboa, onde se realiza a assembleia que elege a direção do partido.

 

Num manifesto em que faz a sua apresentação pública, o PCP publica os 21 pontos da Internacional Comunista, que constituem a sua base política, e afirma a sua adesão ao Movimento Comunista Internacional. Pouco depois forma-se a Juventude Comunista.

 

16 de outubro - Primeira publicação d'"O Comunista", órgão de informação do PCP, e que o "Avante!" viria substituir em fevereiro de 1931.

 

Publicação de "O Jovem Comunista", órgão da Juventude do partido.

 

1922

O PCP adere à Internacional Comunista e já se faz representar no congresso de dezembro, em Moscovo, no ano em que é proclamada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 30 de dezembro.

 

1923

10, 11 e 12 de novembro - I congresso do PCP, em Lisboa, em Lisboa. É eleito secretário-geral José Carlos Rates.

 

1924

21 de janeiro – Morte de Lenine. Começa a ascensão de José Estaline ao poder na URSS.

 

1925

Carlos Rates é afastado de secretário-geral do PCP

 

1926

28 de maio - Golpe militar e instauração de ditadura militar. Dissolução do Parlamento, imposição da censura prévia à imprensa. O golpe interrompeu, em 29 de maio, II congresso que estava a decorrer.

 

1927

Ditadura fecha a Confederação Geral do Trabalho (CGT), anarco-sindicalismo. O PCP passa à clandestinidade.

 

1929

21 de abril - Decorre, na clandestinidade, o congresso em que Bento Gonçalves, operário do Arsenal do Alfeite, em Almada, é designado secretário-geral do partido. Ocupa este cargo até 11 de setembro de 1942.

 

1930

Bento Gonçalves é deportado para Açores e depois para Cabo Verde.

 

1931

15 de fevereiro - É publicado o primeiro número do jornal "Avante!", órgão central do PCP.

 

Álvaro Cunhal adere ao PCP, através da Federação das Juventudes Comunistas (FJC).

 

1932

Francisco de Paula Oliveira, também conhecido como Pavel, é secretário da FJC.

 

1934

18 de janeiro – Greve nacional contra o estatuto do trabalho nacional, com especial expressão na Marinha Grande, Leiria. É reprimida pela polícia e morrem vários militantes comunistas.

 

A partir de março, Pavel, líder das FJC, é o representante do PCP junto da Internacional Comunista, em Moscovo.

 

1935

É preso o secretariado do comité central do PCP, composto por Bento Gonçalves, Júlio Fogaça e José de Sousa. Até ao final dos anos 1930 são presos dirigentes como Francisco Miguel, Carolina Loff, Ludgero Pinto Basto e Álvaro Cunhal. Esta década encerra uma primeira fase da vida do partido.

 

PCP apresenta o seu primeiro relatório ao congresso da Comintern.

 

1936

Álvaro Cunhal, com o pseudónimo “Daniel”, é eleito para o comité central. Neste ano, passa à clandestinidade e viaja até Moscovo para participar no congresso da Internacional Juvenil Comunista. No regresso, participa em Madrid na Organização Antifascista dos Portugueses Antifascistas. 

 

1937

Atentado contra Salazar, responsabilidade de grupo anarquista, liderado por Emídio Santana. Álvaro Cunhal é preso, passa pelo Aljube e depois vai para Peniche.  

 

1939

PCP é afastado do Comintern.

 

Começa a II Guerra Mundial. Invasão da Polónia pela Alemanha.

 

1940/1941

Em 1940 um grande número de militantes é libertado, entre eles Álvaro Cunhal, Militão Ribeiro, Sérgio Vilarigues, Pires Jorge, José Gregório, Pedro Soares, Manuel Guedes e Júlio Fogaça. O PCP leva a cabo uma reorganização do partido, iniciada por Bento Gonçalves e que depois Cunhal prossegue.

 

1942

Bento Gonçalves morre, em 11 de setembro, no Tarrafal.

 

1943

III congresso do PCP, primeiro na clandestinidade, avança com reorganização do partido, na linha leninista, processo liderado por Cunhal.

 

1945

Termina a II Guerra Mundial com a vitória dos Aliados contra a Alemanha e Japão. Fundada a ONU, onde Portugal não entra. A Europa fica dividida, com o Leste sob influência da União Soviética. É criado o Movimento de Unidade Democrática (MUD), sob influência do PCP. O regime cria a polícia política, a PIDE, herdeira da PVDE.  São detidos centenas de militantes do PCP.

 

1946

IV congresso do PCP, na Lousã. Grupo de Cunhal vence e derrota a “política de transição”, defendida pelo grupo de Júlio Fogaça. Partido reclama ter 7.000 militantes.

 

1948

Nova visita de Álvaro Cunhal à União Soviética e outros países do bloco do Leste, iniciada em 1947 (ano em que começa a Guerra Fria), para tentar a reintegração do PCP na Internacional Comunista.

 

1949

Nova vaga de detenções de dirigentes do partido. Cunhal é preso numa casa clandestina, no Luso. Julgado no ano seguinte, é condenado a uma longa pena de prisão.

 

1955

Portugal é admitido na ONU, após anos de espera. É criado o Pacto de Varsóvia, bloco militar de Leste, por oposição à NATO, fundada em 1949.

 

1957

V congresso do PCP no Estoril, que ficou conhecido como o da desestalinização. É adotada a “solução pacífica” de transição para o socialismo, imposta pelo PCUS, agra liderado por Krutchov.

 

1958

PCP apoia candidatura presidencial de Arlindo Vicente, mas desiste a favor de Humberto Delgado. Candidato do regime, Américo Tomás, ganha.

 

1959

O “golpe da Sé”, de militares e civis católicos, com o apoio do PCP, fracassa.

 

1960

Fuga de Peniche. Em janeiro, fogem da prisão destacados dirigentes comunistas, como Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Francisco Martins Rodrigues, Francisco Miguel, Costa Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, Pedro Soares e Rogério de Carvalho.

 

1961

Álvaro Cunhal é eleito secretário-geral do partido. Ocupou o cargo até 1992, altura em que foi substituído por Carlos Carvalhas. Passa a viver no exílio, nos países do chamado Bloco de Leste. É eleito secretário-geral do PCP. Cunhal discursa no congresso do PCUS, em Moscovo. PCP tem novos estatutos e confirma-se a derrota da linha do chamado “desvio de direita”, protagonizada por Júlio Fogaça, que é preso.

Falha o chamado golpe Botelho Moniz, é desviado o paquete “Santa Maria”, por Henrique Galvão, que chama a atenção para a situação portuguesa.

Começa a guerra colonial, em Angola. Há um reforço de tropas portuguesas.

 

1962

Primeira emissão da "Rádio Portugal Livre", que difundia em Portugal algumas notícias que a censura impedia os jornais de divulgarem.

 

1963

Cisão no movimento comunista português, devido ao conflito sino-soviético, com a criação do Comité Marxista-Leninista Português (CMLP).

 

1964

Comité central do PCP reúne-se em Moscovo, onde Cunhal apresenta o relatório mais tarde batizado “Rumo à Vitória”.

Dissidência de Francisco Martins Rodrigues, considerado o precursor do maoismo em Portugal, que cria a Frente de Ação Popular (FAP) e mais tarde o PCP (ml).

É criada a estrutura armada do PCP, a Acção Revolucionária Armada (ARA), que só faz a sua primeira ação em 1970.

 

1965

No VI congresso, em setembro, o PCP aprova o programa do partido para "a Revolução Democrática e Nacional". Rutura com tendência maoista, de extrema-esquerda.

 

1968

António de Oliveira Salazar dá uma queda de uma cadeira e é substituído por Marcelo Caetano.

 

1970

Morte de Salazar. A ARA, braço armado do PCP, faz a sua estreia com um atentado contra um navio que ia partir de Lisboa para África com armas.

 

1974

25 de abril, o Movimento das Forças Armadas (MFA) derruba o Governo liderado por Marcelo Caetano e o Estado Novo.

Álvaro Cunhal regressa a Portugal em 30 de abril. É realizado o VII congresso (extraordinário) do PCP, em 20 de Outubro, o primeiro na legalidade desde os anos 1920. PCP e Cunhal participam em sucessivos governos provisórios.

 

1975

25 de abril - Eleições para a Assembleia Constituinte. Foram eleitos 250 deputados. A forte influência do partido no Período Revolucionário em Curso (PREC) não se reflete nos resultados eleitorais. O PCP elege 30 deputados, o Partido Socialista 116 e o Partido Popular Democrático (futuro Partido Social Democrata) 81.

A revolução está nas ruas, inicia-se a Reforma Agrária, com a ocupação de terras no Alentejo e Ribatejo.

Em 28 de Novembro, é o princípio do fim do PREC e do "Verão Quente", após o golpe ou confronto entre o grupo dos "moderados" e a "esquerda militar", no 25 de Novembro, com a adoção de um modelo político de democracia representativa.

Melo Antunes, “moderado” e conselheiro da revolução, faz declaração à RTP a defender que o PCP deve continuar na legalidade.   

 

1976

Eleições presidenciais em 27 de junho. António Ramalho Eanes é eleito à primeira volta com 61,59% dos votos. O candidato apoiado pelo PCP, Octávio Pato, consegue 7,59% dos votos. Fica atrás de Otelo Saraiva de Carvalho (16,46%) e de Pinheiro de Azevedo (14,37%).

Realiza-se a primeira festa do Avante!, em Lisboa.

 

1977

Governo do PS, através da chamada “Lei Barreto”, começa a limitar a Reforma Agrária, que levou à ocupação de terras no Alentejo e Ribatejo. PCP vota ao lado do PSD e do CDS e ajuda a fazer cair o executivo liderado por Mário Soares.

 

1979

IX congresso do PCP e é criada a Juventude Comunista Portuguesa, a partir da União dos Estudantes Comunistas (UEC) e da União da Juventude Comunista (UJC).

 

1980

O primeiro-ministro, Sá Carneiro, e o ministro da Defesa, Amaro da Costa, líderes do PSD e CDS, morrem na queda de um avião, em Lisboa.

Nas presidenciais, o candidato apoiado pelo PCP, Carlos Brito, desiste a favor de Ramalho Eanes, que é reeleito Presidente da República.   

 

1982

Primeira revisão constitucional, à qual o PCP se opõe, que acaba com o Conselho da Revolução. É criado o Conselho de Estado, a que Cunhal pertenceu até 1991.

 

1986

PCP faz congresso extraordinário para decidir apoio a Mário Soares na segunda volta das presidenciais.

Cunhal faz visitas à China, Vietname, Laos e Camboja e, no regresso, reúne-se em Moscovo com o líder soviético, Mikhail Gorbachev.

 

1987

Momento de contestação interna no PCP. O "grupo dos seis", de Vital Moreira, Veiga de Oliveira, Silva Graça, Sousa Marques, Vítor Louro e Dulce Martins), entrega documento à direção para pedir mudanças no partido. Álvaro Cunhal recusa quaisquer alterações no rumo ou "abertura" do partido.

MDP rompe com APU (Aliança Povo Unido) e PCP e PEV avançam com CDU (Coligação Democrática Unitária).

 

1988

Depois do “grupo dos seis”, surge a “Terceira Via”, que também pede mudanças numa altura em que Mikhail Gorbachev já tinha lançado reformas e a “perestroika” na URSS. É ano de congresso. Contestatários como Zita Seabra são afastados do comité central.

 

1989

Cunhal viaja até Moscovo. Tem uma audiência com Gorbachev e é-lhe entregue a Ordem de Lenine. Nas autárquicas, coligação do PS e PCP, liderada por Jorge Sampaio, ganha as eleições em Lisboa. Nas europeias, o PCP, na CDU, elege quatro eurodeputados, com 14% dos votos.

  

1990

O PCP faz o seu XII congresso (extraordinário), em Loures, um ano após o fim da URSS e a queda dos regimes comunistas na Europa de Leste. Faz uma análise às causas do "fracasso de um 'modelo' que representou o afastamento dos ideais do socialismo", mas "reafirmou" a sua "profunda confiança e convicção no valor, atualidade e projeção dos ideais comunistas". Cunhal continua à frente do partido. Carlos Carvalhas é eleito secretário-geral adjunto.

Zita Seabra é expulsa do PCP.

 

1991

É o ano do golpe de estado na URSS para derrubar Gorbachev, que teve, num primeiro momento, o apoio do PCP.

Em 19 de Novembro, o comité central anuncia a expulsão dos militantes Barros Moura, Mário Lino e Raimundo Narciso por posições políticas discordantes das do partido e "atividades fracionárias".

Nas eleições presidenciais, Carvalhas vai às urnas e recolhe 12,8% dos votos.

 

1992

No XIV congresso, em Almada, em dezembro, Álvaro Cunhal deixa a liderança do partido. Carlos Carvalhas assume o cargo de secretário-geral. Cunhal continua, porém, com um cargo especial, de coordenação: presidente de um novo órgão, o conselho nacional.

 

1995

Nas legislativas, a CDU baixa a votação, para 9,5%. Nesse ano, Jerónimo de Sousa é o candidato presidencial, mas desiste a favor de Jorge Sampaio, que é reeleito para Belém.

 

1996

Novo período de crise interna no PCP. No XV congresso, é extinto o conselho nacional e Álvaro Cunhal passa a ser apenas membro do comité central. Faz palestras pelo país e aproveita-as para se pronunciar contra mudanças pretendidas pelos "renovadores".

 

1998

Comité central lança o “Novo Impulso” que, na prática, acabaria com os chamados “controleiros”. Este documento propõe que sejam eleitos pelos militantes, e não nomeados, os dirigentes que fazem a ligação das organizações com os organismos superiores. A proposta caiu no congresso, dois anos depois.

 

2000

XVI congresso realiza-se em Lisboa, num momento de grande atividade dos “renovadores”, e é a primeira vez desde o 25 de Abril que Cunhal não participa, por questões de saúde. Envia, porém, uma mensagem aos congressistas, lida pelo ator Canto e Castro, em que faz a defesa da linha marxista-leninista, do centralismo democrático e trava quaisquer mudanças estratégicas do partido.

 

2001

Álvaro Cunhal aparece pela última vez em público para votar nas presidenciais, em que o candidato apoiado pelo PCP é António Abreu.

 

2002

Comité central ratifica, em setembro, a expulsão dos renovadores Edgar Correia e Carlos Luís Figueira e a suspensão, por 10 meses, do histórico Carlos Brito. É lançado o movimento Renovação Comunista.

 

2004

No XVII congresso do PCP, em novembro, em Almada, Jerónimo de Sousa é eleito secretário-geral do partido, sucedendo a Carlos Carvalhas.

 

2005

Morte de Álvaro Cunhal, 12 de junho, com 91 anos. O funeral, em Lisboa, reuniu milhares de pessoas numa última homenagem ao líder histórico do PCP.

Nas legislativas, o PS, com José Sócrates, consegue a sua primeira maioria absoluta. A CDU tem 7,5% e sobe o número de deputados de 12 para 14.

 

2006

Em ano de presidenciais, Cavaco Silva é eleito. Jerónimo de Sousa recolhe 8,5%.

 

2008

Jerónimo de Sousa é reeleito secretário-geral do PCP, no XVIII congresso, em Lisboa, em 02 de dezembro.

 

2012

Em 02 de dezembro, o comité central do PCP reelege por unanimidade Jerónimo de Sousa secretário-geral do partido, no último dia do XIX congresso, em Almada.

 

2015

Em 04 de Outubro, realizam-se eleições legislativas. Coligação PSD/CDS-PP vence com 36,83% dos votos, o PS é segundo partido mais votado (32,38%). Apesar da vitória da direita, há uma maioria de esquerda no parlamento, com o PS, BE (10,22%), e PCP-PEV (8,27%), que abre caminho a um acordo parlamentar inédito. Mais tarde apelidado de "geringonça", os socialistas formam Governo, apoiados em posições comuns assinadas com PCP, BE e Verdes.

 

2016

No XX congresso, em Lisboa, Jerónimo de Sousa é reeleito para mais um mandato como secretário-geral do PCP.

 

2019

Nas europeias de 26 de junho, a CDU obtém 6,9% dos votos, elege dois eurodeputados, perdendo um representante no Parlamento Europeu comparativamente às eleições de 2014.

 

06 de outubro - A CDU, coligação liderada pelo PCP, elegeu 12 deputados, menos cinco do que em 2015, numas eleições ganhas pelo PS, com 36,34%, longe da maioria absoluta.

 

[Fontes: Agência Lusa, “Uma Biografia Política de Álvaro Cunhal”, José Pacheco Pereira (ed. Temas e Debates), “Breve História do Partido Comunista Português”, Joana Reis (ed. 100Folhas/Público), Visão, Público, Expresso]