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Gonçalo Palma
03 julho 2022, 04:06
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John Legend cantou a sua autobiografia

John Legend cantou a sua autobiografia
John Legend atua em Los Angeles, 2014 Zach Cordner/Invision/Associated Press
Gonçalo Palma
03 julho 2022, 04:06
Concerto em Cascais abriu edição deste ano do festival Cool Jazz.

As enchentes na música ao vivo estão generalizadas e esta primeira noite do EDP Cool Jazz, encabeçada por John Legend, náo foi exceção, com o Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais, sem praticamente um espaço vazio à vista, no relvado do recinto.

Às 22h18, milhares telemóveis ergueram-se, para se registar a entrada em palco da estrela da noite, John Legend, que surgiu com a sua figura fina, de fato rosado e uns ténis de sola grande. O tema de abertura foi 'Ooh Laa', num registo de soul mais suave ao jeito do cantor.

Como seria de esperar, a banda de apoio era numerosa, com 11 elementos, entre os quais um trio de coros femininos e um trio de metais. Foi nesse porta-aviões musical que John Legend descolou para a festa em Used to Love U, a apelar à primeira grande extroversão coletiva, que se tornaria ainda mais física na canção seguinte, Penthouse Floor, na qual não se via a pista de discoteca, mas se ouvia. 

Em Love Me Now, o marcante trio dos coros avança para a frente do palco, mantendo a rigorosa coreografia de gestos e um cuidado visual homogéneo que não descura sequer os brincos de argola em comum. 

John Legend lembrou os sucessivos adiamentos deste espetáculo, sem nunca mencionar o nome do bicho que provocou isso tudo, e assinalou o começo da digressão europeia. A seguir, fez um medley autobiográfico, que lembrou o tema em que trabalhou com Lauryn Hill ao piano, Everything Is Everything, naquele que foi o "primeiro grande álbum" em que participou, The Miseducation of Lauryn Hill - "chamaram-me o tipo da faixa 13". Falou do início da sua amizade com Kanye West em Nova Iorque que o levou a uma série de pessoas, como Jay Z ou Alicia Keys, em que cada colaboração de Legend foi ilustrada com o momento musical respetivo. 

Após o medley autobiográfico, o concerto retomou a sua normalidade num dos temas novos que integra o próximo álbum que sai este ano, Dope, que foi tocado em regime acelerado, tal como os outros temas. 

O trio de metais sempre com um pezinho de dança, a mover-se sincronizadamente, resolve avançar no palco em P.D.A. (We Just Don't Care), com uma tangente aos temperos da salsa. John Legend aproveita a distração para rapidamente mudar de fato, sentando-se ao piano para cantar à capela os primeiros versos de Feeling Good, tema imortalizado por Nina Simone. Sentado ao piano ano e só em palco, lembra o seu passado na igreja pentecostal em Springfield e a influência da sua avó no ensinamento de gospel, dedicando-lhe a versão de Like a Bridge Over Troubled Water, de Simon & Garfunkel. No seu auto-controlo de elegância, expòs a sua qualidade vocal a nu. E noutro momento autobiográfico, falou do passado de colaboração com os Black Eyed Peas, para quem esteve para entregar partes do tema então em desenvolvimento, mas que tornou só seu, Ordinary People, que denuncia a sua linha de descendência de Stevie Wonder. Tornou-se um dos momentos altos deste concerto de hora e meia, com John Legend a abanar a cabeça à volta do microfone, enquanto ouvia prazerosamente o público a cantar o refrão. 

"Digam à vossa pessoa mais próxima que a amam", desafia Legend, antes de enviar mais boas vibrações, como na nova música All She Wanna Do, no mais popular Bigger Love e em Green Light, 

Para o encore, ficou guardado o ansiado All of Me, com o público a cantar todas as frases do tema, perante o olhar vigilante de John Legend ao piano, sem conseguir esconder o sorriso e o deleite daquele momento. E terminou, novamente sob o desígnio amoroso, em Wild. O Dia São Valentim é quando John Legend quiser. Pode ser todos os dias.