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Agência Lusa
19 julho 2022, 10:09
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Janela Manuelina vai ser "limpa" em obra de um milhão no Convento de Cristo

Janela Manuelina vai ser "limpa" em obra de um milhão no Convento de Cristo
Agência Lusa
19 julho 2022, 10:09
O diretor-geral do Património Cultural disse que "é uma intervenção bastante abrangente e que acaba por ter um contributo para a história da conservação em Portugal".

A Janela Manuelina do Convento de Cristo, em Tomar, vai sofrer obras de intervenção e restauro, numa empreitada de um milhão de euros, a concluir no prazo de um ano, e que inclui as fachadas e coberturas da igreja.

Numa conferência de imprensa que teve como fundo a janela "porventura mais famosa e charmosa do Mundo", como se lhe referiu o diretor-geral do Património Cultural, João Carlos Santos, a secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, realçou a "enorme relevância" da intervenção que se está a iniciar no monumento Património da Humanidade.

Isabel Cordeiro disse que a obra, já com andaimes montados, "percorre todo o exterior da igreja, onde está a mundialmente famosa Janela do Capítulo", que possui "elementos escultóricos de extraordinária importância para o entendimento deste monumento absolutamente único em Portugal" e que se encontram cobertos por líquenes que os cobrem de uma coloração negra e amarela.

A intervenção de conservação e restauro prevista, com financiamento do Programa Operacional Centro 2030 (85% de fundos comunitários e 15% de comparticipação nacional), "é delicada", salientou.

"Vai permitir retirar a "biocolonização" excessiva que ao longo de séculos se acumulou nestes extremamente imbricados elementos pétreos e escultóricos, devolvendo-lhes a plena leitura iconográfica, decorativa, permitindo uma fruição e um entendimento muito mais imediato do monumento", declarou.

Delgado Rodrigues, consultor científico da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), explicou que, para reabilitação da Janela Manuelina, vai ser usada uma "abordagem diferente", já que a área a intervir vai ser completamente tapada.

Esta técnica naturalista permitirá que, sem humidade e sem luz, morram os micro-organismos que invadiram os elementos escultóricos em pedra, cobrindo-os da coloração negra e amarela dos líquenes, que impedem a leitura iconográfica dos elementos pétreos.

Mais morosa, esta intervenção evita o recurso a biocidas, normalmente usados por não serem agressivos para a pedra. Mas, no caso da Janela Manuelina, foi considerado mais prudente ir "de forma mais suave", afirmou.

Isabel Cordeiro destacou a congregação de várias equipas de especialistas e o envolvimento do Instituto Politécnico de Tomar, que vai permitir que, durante a obra, o público possa acompanhar "a alteração que se vai processando", seja em imagens que serão projetadas em "videowalls", seja na página do monumento.

A obra "inscreve-se num plano diretor para o monumento", que, numa outra intervenção, a concluir até ao final de 2025 e com financiamento a 100% pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), incluirá o castelo e a criação de uma nova zona de acessos, permitindo "devolver à fruição publica uma área desconhecida, mas de extraordinária relevância para a história da arte, para a história de Portugal" e para identidade nacional, acrescentou.

João Carlos Santos disse que, dos mais de 150 milhões de euros do PRR para a Cultura, a DGPC vai gerir perto de 90 milhões de euros para intervenções em 28 equipamentos, entre monumentos, museus, palácios e laboratórios, sendo que 4,4 milhões se destinam ao Convento de Cristo.

A verba vai, nomeadamente, permitir a reabilitação do Castelo (Paço Henriquino, Alcáçova e Jardim; 2,8 milhões de euros) e dos Claustros D. João III (1,25 milhões de euros).

Numa visita à zona do Castelo, atualmente em ruína, João Santos sublinhou que esta intervenção vai permitir criar uma nova entrada e uma "roda" de distribuição dos visitantes por dois circuitos, um resultante da herança Templária (antiga fortaleza e Paço) e outro da Ordem de Cristo (complexo monástico).

A diretora do Convento de Cristo, Andreia Galvão, sublinhou a "necessidade de intervenção continuada" num monumento com um elevado risco de degradação, dada a "fragilidade" da pedra calcária retirada das pedreiras da região para a sua construção.

Andreia Galvão salientou não existir conhecimento de uma intervenção, no passado, da grandeza e complexidade da que agora vai decorrer na igreja do convento, mas destacou "experiências anteriores" que permitiram obter informação relevante sobre a camada pétrea e a cobertura orgânica, essencial para agora se "avançar com solidez".