Ouça a M80, faça o download da App.
Gonçalo Palma
23 setembro 2022, 10:38
Partilhar

12 salas de espetáculos deslumbrantes

12 salas de espetáculos deslumbrantes
Associated Press
Gonçalo Palma
23 setembro 2022, 10:38
Agora que começa o outono, abre-se a época cultural dos espaços fechados.

Há três meses, para assinalar o início do verão, fizemos um levantamento de 12 espaços ao ar livre idílicos, utilizados para espetáculos (nomeadamente de música, mas não só).

 

Com o início do outono, em que se retoma a rotina sazonal da agenda cultural focada em espaços fechados, selecionamos 12 salas de espetáculos deslumbrantes, segundo a mesma divisão do levantamento de 12 espaços ao ar livres idílicos: quatro salas do país, quatro salas do restante continente e quatro salas do restante planeta. 

Estamos a falar de 12 salas em que é difícil olhar só para o palco. A beleza envolvente transforma o espectador num potencial interessado em arquitetura, engenharia, pintura, restauro ou história. O fascínio visual pode começar na vista à distância do edifício e continuar pelos corredores, foyers e outros recantos que tais, até entrar na abismal sala principal.

Eis então a nossa seleção de 12 salas de espetáculos deslumbrantes.

Theatro Circo (Braga)
Tal como muitos dos teatros mais belos, o seu interior é bem mais esplenoroso que a fachada. Inaugurado em 1915, durante um boom de novos espaços culturais no país, este teatro bracarense tem uma sala principal sumptuosa, da cúpula ao palco, recheado de detalhes, das pinturas ao lustre. Impressiona também pela altura, com uma plateia sentada e três balcões de camarotes. E beneficia muito do restauro do início do século XXI. O Theatro Circo sempre teve uma programação versátil - música, teatro, bailado, cinema - e é hoje um dos espaços culturais de referência de Portugal.  

 

Coliseu do Porto
É uma das mais referenciais salas de espetáculos do país, grande aglutinadora da vida cultural da Invicta, desde que foi inaugurada em plena II Guerra Mundial, em 1941. Com influência de vários modernismos europeus e concebida por vários arquitetos, incluindo o lisboeta Cassiano Branco, a sala principal impressiona pelos traços arredondados e pelas formas flexíveis que a tem permitido ser multicultural. O Coliseu do Porto está no coração das gentes da cidade, tendo inspirado um forte e vitorioso movimento cívico quando o espaço cultural esteve em risco de ser comprado pela Igreja Universal de Deus a meio dos anos 90. 

Casa da Música (Porto)
É uma obra-prima da arquitetura do holandês Rem Koolhaas, aberta ao público em 2005. Numa vista aérea, parece um OVNI, embora de formas retilíneas, junto à Rotunda da Boavista, já com as escadas colocadas. O inclinado pavimento das imediações tem servido como um skate park improvisado. Lá dentro, o edifício é um conjunto de recantos, de diferentes ângulos, com muitas vidraças que permitem vistas privilegiadas para a cidade. A Sala Suggia é a caixa principal dentro de outra caixa. As ligações entre janelas do edifício permitem luz natural suficiente para o auditório dispensar a luz artificial, com um auditório com espaço grande entre as filas das cadeiras e sem corredor central.

 

Teatro São Luiz (Lisboa)
Na capital, não faltam salas de espetáculos deslumbrantes, em especial no Chiado, onde se encontra o Teatro São Luiz, inaugurado em 1892 e rebatizado pela última vez em 1918 com o nome atual, em homenagem a um dos seus impulsionadores: o Visconde de São Luiz de Braga. 
Com lotação máxima 690 pessoas, a sala principal é um espanto de beleza, sobretudo quando se olha para o teto e se vê a pintura e o lustre, além dos numerosos detalhes dourados dos varandins dos balcões e dos camarotes. Respira-se nesta sala principal todo um ambiente do século XIX em que foi inaugurado. Foi neste teatro que se estreou a atriz Amélia Rey Colaço, em 1917, quando o São Luiz se chamava de Teatro República. 

 

Palau de la Música Catalana (Barcelona, Espanha)
Inaugurado em 1908, num período criativo para a arquitetura em Barcelona, o Palau de la Música Catalana já foi declarado Património Cultural da UNESCO. A sala principal (que acolhe 2000 espectadores) fascina pela pela luz natural, com a ajuda dos imponentes vitrais e por um teto que é uma espécie de montanha dourada invertida, densamente pormenorizada, que simboliza o céu e o sol. 


Harpa (Reiquejavique, Islândia)
É um grandes monumentos da capital islandesa, finalizado em 2011, depois de um processo de contrução afetado pela grande crise económica no final da década anterior.
Essa monumentalidade começa logo na fachada, uma panóplia de milhares de painéis de vidros, que refletem a luz exterior. Todo o edifício é um Amazonas cultural e arquitetónico, que abre milhares possibilidades e de maravilhas visuais, nos vários pisos. À altura (e que grande altura) desta combinação de prodígios visuais, está a sala principal, que permite um olhar vertiginoso para os três balcões e para o próprio palco. 
Localizado junto ao porto, o edifício Harpa oferece ótima panorâmica sobre a baía de Reiquejavique.

 

Markgräfliches Opernhaus (Bayreuth, Alemanha)
Estar na Ópera de Bayreuth é como uma viagem fascinante ao século XVIII, com os seus imensos adornos e candeeiros nos camarotes, as esculturas que protegem o palco, os dourados aqui e acolá, as colunas a cada metro, o gigantismo da cortina e um teto e cúpula que inspiraram o melhor engenho e arte. Por vezes, o ser humano consegue fazer milagres e a Ópera de Bayreuth é um deles.  A escuridão relativizada pelos candeeiros confere uma beleza única a esta sala inaugurada em 1748, quando a Europa era ainda absolutista.

 

Ateneu Romeno (Bucareste, Roménia)
A sala principal do Ateneul Român tem a forma circular de um planetário e é também para o teto que apetece olhar. Mas depois, é impossível não olhar para o anel de frescos da parede e não ficar enfeitiçado com a harmonia de luzes na sala. A entrada é também circular e lindíssima, com nobreza de palácio rico. Visto da rua, o Ateneul Român parece o Panteão. Esta proeza está acessível à humanidade desde 1888.

 

Guangzhou Opera House (Guangzhou, China)
O Guangzhou Opera House reflete-se no Rio das Pérolas, em Guangzhou. Mas este edifício é ele próprio uma pérola da arquitetura, da autoria da anglo-iraquiana Zaha Hadid e inaugurado em 2010. Este edifício de ópera futurista é um esplendor envidraçado, de vários pisos e foyers, com figuras geométricas curvadas que testam a gravidade e, sobretudo, a engenharia. Lá dentro, na monumental sala principal, a magia extraterreste deixa cada espectador boquiaberto.

 

Sydney Opera House (Sidney, Austrália)
É provavelmente o monumento que mais postais inspira na Austrália. Do outro lado da baía, a Sydney Opera House parece uma embarcação com várias velas, mas do outro plano são afinal conchas. O edifício é coberto por telhas cerâmicas esmaltadas e já não imaginamos Sidney sem esta atração, que foi inaugurada pela Rainha Isabel II em 1973.
A sala propriamente dita é formada por um anfiteatro recortado, que escancara a genialidade arquitetónica do dinamarquês Jørn Utzon. Mas mais do que um ex-líbris turístico e uma majestosa sala de ópera, Sydney Opera House é sobretudo um centro cultural que agrega diferentes géneros de música (incluindo o rock) e as mais diversas expressões artísticas.

 

Ryman Auditorium (Nashville, Estados Unidos)
O edifício era, à origem, uma igreja, que seria convertida numa sala de espetáculos e, consequentemente, numa das catedrais de toda a música americana e não só do country. Tal como a fachada, os vitrais da sala são outro sinal do berço eclesiástico. Foi no Ryman Auditorium que Johnny Cash gravou o seu famoso programa de televisão, "The Johnny Cash Show", entre 1969 e 1971.
O anfiteatro circular tem dois níveis e é bonito pela dimensão maneirinha, como se a população de uma pequena povoação coubesse toda naquela sala, com capacidade para pouco menos de 2400 espectadores. A partir de qualquer ponto do anfiteatro, o palco está sempre próximo de nós. E a história também.

 

Teatro Amazonas (Manaus, Brasil)
O filme de Werner Herzog, "Fitzcarraldo" (de 1982), é sobre o sonho expedicionário de um irlandês que imagina uma ópera no meio da floresta amazónica. O Teatro Amazonas talvez tenha inspirado o cineasta alemão – na verdade, o teatro aparece mesmo no filme.
Graças à expansão de riqueza do ciclo da borracha na zona do Amazonas, a construção do Teatro Amazonas foi possível. Hoje, é um edifício faustoso que embeleza e se impõe no horizonte visual da cidade de Manaus desde 1896. A fortuna do baronato à época permitiu comprar os melhores materiais e contratar os melhores artistas para fazer do Teatro Amazonas uma das salas de espetáculos mais bonitas do mundo: as telhas vitrificadas e as peças de cerâmica da cúpula com as cores do Brasil, as pinturas do teto da sala e do pano da boca de cena, o lustre e os candeeiros, os mármores e outras preciosidades. Do salão nobre à sala de espetáculos, a visão torna-se no nosso sentido mais precioso.


Nas imagens em cima, da esquerda para a direita: Palau de la Música Catalana, Harpa e o Sydney Opera House (em cima); Guangzhou Opera House, Casa da Música e o Teatro Amazonas (em baixo)