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Silvia Mendes
12 maio 2019, 10:23
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Backstreet Boys: no nosso ADN para sempre

Backstreet Boys: no nosso ADN para sempre
Rúben Viegas
Silvia Mendes
12 maio 2019, 10:23
Este sábado, Lisboa assistiu a dois regressos muito aguardados: o do sol e o dos Backstreet Boys. Foi o arranque da digressão mundial "DNA" que encheu a Altice Arena de fãs, corações e boas memórias.

 

Impossível - embora muito previsível - não começar este texto com a exclamação da noite: "Backstreet's Back. Alright!". Pronto, já deitámos cá para fora. É que a excitação ainda corre desenfreada pelo sangue, os yeahs arrastados ainda ecoam nos ouvidos e os moves revivalistas, que invadiram os corpos dos que estiveram na Altice Arena, ainda não sossegaram. A noite foi para reviver (e viver) a juventude a uma só voz. Bem audível, por sinal.

Foi então o arranque da digressão mundial "DNA", a maior dos últimos 18 anos da boy band norte-americana que, com mais de 25 anos, lidera o top das maiores boy bands do mundo. Quem disser o contrário, não conhece as estatísticas dos álbuns pop mais vendidos no limiar da viragem de século. Poupamos o trabalho da pesquisa: os Backstreet Boys venderam mais de 100 milhões de discos.

No final de um dia quente, já a piscar o olho ao verão, estiveram, pelo menos, duas gerações, na Altice Arena. Se os Backstreet Boys eram do tempo dos pais, também são do tempo dos filhos e isto só pode significar duas coisas. Primeiro, que os grandes hits do grupo estão claramente no ADN musical passado aos mais pequenos. Segundo, que os cinco rapazes não estão reféns de uma cápsula temporal obsoleta datada do final dos anos 90.
 
Depois de algum tempo à procura de identidade, Brian, Nick, AJ, Howie e Kevin são agora movidos pela força da pop contemporânea. "DNA", o disco mais recente e que serviu de ponto de partida a esta digressão, voltou a catapultar a banda para o topo da Billboard, proeza que era comum à época, mas que já não acontecia há quase duas décadas, desde "Black & Blue", de 2000. Se muitos começaram a ouvir Backstreet Boys ainda no tempo do escudo e dos quartos totalmente forrados com posters da Popcorn, folgamos em saber que a geração do streaming e das Insta stories também pode crescer com eles

Apesar de não ter faltado sangue novo na plateia, durante duas horas, os já trintões/quarentões foram inevitavelmente projetados para os tempos da adolescência com a rajada de êxitos, de outros tempos, escolhidos para o alinhamento. O "aviso" de que seria uma noite de celebração da estrada dos BSB foi feito logo no início do concerto, com o nome de todos os álbuns a figurar no vídeo de abertura exibido num dos ecrãs.    

Aviso feito, a entrada dos cinco rapazes foi, claro, ao som de gritos e aplausos que se ouviram em todos os cantos da sala e, acreditamos nós, para lá do Tejo. Portugal recebeu os Backstreet Boys, em estado de graça, como nos bons velhos tempos, apesar do trabalhado jogo de luzes e das  projeções em vídeo insinuarem que há vontade em desbravar o futuro.

Com muitos corações ao alto, a temperatura a subir e a longa espera quase a terminar, 'I Wanna Be With You', 'The Call' e 'Don't Want You Back' compuseram a tríade de arranque que logo começou a provocar uma turbulência de emoções nostálgicas por toda a arena

Costuma-se dizer que os amigos que fazemos durante a adolescência ficam para sempre. Se os amigos ficam, as canções também. Foi fácil de perceber que ainda temos as letras na ponta da língua. Sim, ainda sabemos praticamente todos os refrões que, na altura, entoávamos nas alegrias e tristezas dos nossos dias que, por sinal, pareciam mais longos. 

O alinhamento foi pensado para o revivalismo. "DNA" foi bem recebido, mas não foi o protagonista. Apesar disso, os pequenos solos de Brian, Howie, AJ, Nick e Kevin, que foram apresentando algumas das novas canções, como 'The Way It Was', 'Passionate', 'Nobody Else' ou 'Chateau', tiveram a aprovação imediata dos fãs de longa e curta data. 'No Place' e 'Chances' seguiram o exemplo e confirmaram a vontade dos BSB em continuar a fazer discos de entrada imediata nos tops.

Mas voltemos aos clássicos, é que foram tantos que, não tarda, perdemos a conta. Se no início do concerto a temperatura já começava a subir, agora Nick Carter já dizia, em jeito de desabafo, "está a ficar calor". Estava mesmo. 'Get Down (You're the One for Me)' - antecedido por um sonoro "let me hear you say yeeeah" - agitou o que ainda havia por agitar. Com o final do tema selado com o tão bem sincronizado fechar de braços à boy band, era tempo de agradecer o apoio que têm recebido dos fãs durante todos estes anos.   

Depois da (também clássica) primeira muda de roupa, 'Show Me the Meaning of Being Lonely' mostrou que, nem por um segundo, os Backstreet Boys estiveram sozinhos. Todos os que estavam na Altice Arena alinharam-se para cantar a balada, de mão ao peito e corações literalmente na mão. Seguiram-se 'Incomplete', 'Shape of My Heart' ou 'Drowning', entre mais palavras de agradecimento por uma estrada tão bem partilhada.

A meio do concerto, os BSB surpreenderam todos com a muda de roupa do segmento a ter lugar no palco atrás de um biombo. Para quê ir lá atrás quando se pode mudar de roupa durante o concerto e, já agora, atirá-la, com alguma malandrice, às pessoas que conseguiram os lugares da frente? O momento, despido de qualquer vergonha, fez subir ainda mais a temperatura. Houve mesmo quem tivesse tido a sorte de apanhar algumas peças que certamente, por esta hora, já fazem parte da "colecção BSB" lá de casa.

'Quit Playing Games (With My Heart)' ou 'As Long As You Love Me' não podiam faltar e não faltaram. Os hinos ao amor (e desamor) adolescente foram celebrados com a ainda agilidade vocal dos cinco rapazes e com os movimentos irreprensíveis coreografados com a deliciosa precisão da pop. 

AJ, Howie, Nick, Kevin e Brian nunca estiveram quietos. Andaram constantemente de um lado para o outro como se precisassem de sorrir ou acenar a todos os que estavam na plateia. E mais. 'Don't Wanna Lose You' e a canção em forma promessa 'I'll Never Break Your Heart' foram cantadas numa plataforma que elevou o grupo quase até ao teto. Enquanto os feixes luminosos de mil e uma cores trespassavam o ar, as letras cantadas ao alto (e a bom som) trespassavam-nos a memória. E tão bem que o Nick ficou lá em cima (se toda a gente tem um Backstreet Boy preferido, quem vos escreve também).  

Com os meninos já em baixo, estava na altura de soltar o beat poderoso de 'Everybody (Backstreet's Back)'. Aquele que foi um dos picos da noite deu-nos a certeza de que há canções e movimentos que nunca terão pó e de que os nossos rapazes estão mesmo de volta. Alright!

Com a fórmula certa para ser inesquecível, 'I Want It That Way' foi cantada por toda a gente (mesmo toda a gente) de uma ponta à outra. Será um dos clássicos que irá levar o seu tempo a sair das nossas cabeças. Foram três minutos de puro ouro pop até chegar a pausa para o encore.

Os BSB tinham acabado de sair e já estavámos cheios de saudades. É que, mesmo que o nosso caderno de Matemática, meticulosamente forrado com fotografias do nosso Backstreet Boy preferido, esteja perdido algures numa das caixas armazenadas na arrecadação dos nossos pais, o coração ainda palpitou, a grande velocidade, com cada uma das canções que revivemos ontem.  

O regresso ao palco foi ao som de uma das novidades de DNA, 'Don’t Go Breaking My Heart'. O single, a lembrar a pop de Bieber e que tem a assinatura de Shawn Mendes, declara, mais uma vez, que os BSB souberam seguir em frente e têm uma palavra a dizer no futuro.

O grande final foi com 'Larger Than Life', a canção que o coletivo da Flórida escreveu para fãs no virar de século. A escolha fez todo o sentido. O concerto de regresso dos Backstreet Boys só poderia ter acabado com uma declaração de amor a todos os que não desistiram deles, mesmo nos tempos mais difíceis. 

Os cinco rapazes (agora pais de família) foram tudo o que precisávamos na noite de ontem. Ainda cabem na forma dos nossos corações e já garantiram esse lugar para sempre.

Se, tal como disseram recentemente em várias entrevistas, "DNA" representa um "novo capítulo", Portugal agradece ter escrito algumas linhas.