Que grande canção estará a preparar Bruce Springsteen?

Bruce Springsteen tem sido o guardião da América. Sempre que há uma crise - económica, nuclear ou sanitária ou outra qualquer - o homem aparece munido por uma música monumental.
 
Agora, com uma ameaça mais universal como a pandemia do covid-19 e com todo o seu impacto económico, Bruce Springsteen faz falta a todo o mundo. A crise sanitária cruzou-se com o movimento de protestos Black Lives Matter, que começou nos Estados Unidos e atravessou oceanos. Bruce Springsteen deve estar a atento a tudo isto, enquanto as ideias para novas canções fervem em lume pouco brando na sua cabeça.
 
Bruce Springsteen não sabe somente divertir e pôr o público a dançar como entertainer com muito andamento de atuações em bares. Também tem uma consciência social. Enquanto o corpo sua e mexe, a cabeça pensa e muito bem.
 
Relembramos crises passadas onde Bruce Sprinsteen apareceu com canções que são um abraço à humanidade. Ele tem estado connosco.
 
A Grande Depressão
'The Ghost of Tom Joad' (de 1995, recuperada em 2014)
Bruce Springsteen não viveu a Grande Depressão, mas teve nas mãos o livro "As Vinhas da Ira", a obra-prima de John Steinbeck sobre a crise económica dos anos 30, afetada pela queda da Bolsa de Wall Street de 1929 e agravada pelas tempestades de poeira Dust Bowl que arrasaram culturas agrícolas nos anos 30 na América do Norte. Esse livro é o ponto de partida para esta canção folk sobre o personagem principal Tom Joad. Em pouco mais de quatro minutos, Bruce Springsteen viajou com ele nesta fuga desesperada à miséria e à fome - "Sleeping on a pillow of solid rock/Bathin' in the city aqueduct". Reviu o seu fantasma quando, na ressaca da crise económica de 2008, fez uma versão mais guerrilheira para o álbum de 2014, "High Hopes", na companhia decisiva do guitarrista Tom Morello, dos Rage Against the Machine.
 

  
Guerra do Vietname
'Lost In The Flood' (de 1973)
Bruce Springsteen faz parte da mesma geração de jovens que foram recrutados para a Guerra do Vietname. E o assunto sempre o perseguiu. O Boss conheceu e fez amizades com vários veteranos da Guerra do Vietname na sua cidade de Nova Jérsia. A personagem desta canção é um desses veteranos, que regressa a uma cidade devastada por problemas sociais
 

 
Acidente nuclear de Three Mile Island
'Roulette' (de 1988)
A duas horas e meia de carro da sua cidade, dá-se o maior acidente nuclear de sempre nos Estados Unidos, na central Three Mile Island, em 1979. A evacuação de várias localidades próximas foi o pormenor que Bruce Springsteen apanhou nesta canção. Como sempre, o músico faz da estatística de uma tragédia um problema singular de cada uma daquelas milhares de pessoas que tiveram que fugir à pressa das suas casas, deixando tudo o que era seu para trás, naquela loucura apocalíptica de uma ameaça que nenhum político esclarecia. A canção esteve engavetada e só em 1988 foi publicada.
 

 
Sida
'Streets of Philadelphia' (de 1993)
Nesta época pandémica em que o medo está a derrubar o humanismo, houve nos anos 80 e no início dos anos 90 uma crueldade similar quando a sida irrompeu como a "doença da morte". Mas Bruce Springsteen fez novamente do olhar ao elo mais fraco a sua maior força, colocando-se no seu lugar, cantando sobre um advogado seropositivo na sua contagem decrescente para a morte, a perder as suas forças e, pior que tudo, amigos. Essa personagem é o advogado Andrew Beckett, interpretado por Tom Hanks, no filme de Jonathan Demme, "Philadelphia". Esta canção valeu um Óscar a Bruce Springsteen.
 

 
11 de Setembro
'The Rising' (2002)
Bruce Springsteen volta a olhar para cada um de nós. Perante a catástrofe da queda das Torres Gémeas, em Nova Iorque, o rocker centra-se no bombeiro que sobe heroicamente as escadas interiores de um dos edifícios em chamas do World Trade Center, rumo à escuridão do fumo e à morte - "On my back's a 60-pound stone/On my shoulder a half mile of line". Mas como quase sempre, Bruce Springsteen tenta levantar a moral com uma canção arrebatada, que simboliza o regresso da colaboração em estúdio com a sua E Street Band, após um longo interregno discográfico. É uma das músicas de que Springsteen mais se orgulha de ter escrito em toda a sua carreira.
 

  
Crise económica de 2008
'Death To My Hometown' (de 2012)
Isto é puro folk-rock de intervenção. Sem nunca os nomear, Bruce Springsteen ataca os banqueiros, os “ladrões gananciosos”, que penhoraram casas e deram cabo de empregos, arrasando famílias. Esta canção sobre as novas cidades-fantasma é das mais revolucionárias de sempre de Bruce Springsteen.