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Gonçalo Palma
25 agosto 2020, 07:00
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IndieLisboa: começa hoje a peregrinação cinéfila

IndieLisboa: começa hoje a peregrinação cinéfila
IndieLisboa
Gonçalo Palma
25 agosto 2020, 07:00
Entrevista ao diretor do festival, Carlos Ramos. Festival termina na capital a 5 de setembro.

A partir de hoje, há um imenso mundo cinéfilo pronto a ser descoberto em mais uma edição do festival de sétima arte IndieLisboa, que decorre até 5 de setembro, nos espaços do São Jorge, Capitólio, Culturgest, Cinemateca Portuguesa e Cinema Ideal.

16 anos depois da edição de estreia, o IndieLisboa volta a ocorrer no final do verão, depois das demais edições terem acontecido na primavera. O motivo desta alteração de época prende-se, evidentemente, com a crise pandémica do covid-19 que obrigou o festival a reagendar a sua 17ª edição.

A necessidade faz o engenho e o IndieLisboa fez do constrangimento sanitário uma nova força, com a novidade das sessões ao ar livre, "para responder às expetativas de quem não está confortável para ir para dentro de uma sala de cinema, tem a possibilidade de ver um filme ao ar livre na esplanada da Cinemateca ou do Cineteatro Capitólio", diz-nos Carlos Ramos, da direção do festival.      

A programa do IndieLisboa é, como habitual, extensa, com numerosas secções (13 ao todo). É tão recheada que Carlos Ramos tem dificuldades em fazer destaques. "Este ano há um olhar que acaba por ter ecos com o que está a acontecer com as questões raciais, que já tinha sido pensado antes de tudo isto acontecer [as manifestações antirracistas por causa de George Floyd]: há um olhar para África, para as questões coloniais e políticas. Nós decidimos homenagear mostrando a obra de um cineasta senegalês, o Ousmane Sembène, que é considerado por muitos como o pai do cinema africano. É um realizador senegalês autodidata que nasceu quando o país era ainda ocupado pela potência colonial, a França. Ele fez um cinema muito focado nas lutas de classes, no anticolonialismo, e o papel da mulher. Vamos mostrar a retrospetiva integral da sua obra". 

 

Uma das secções do IndieLisboa que Carlos Ramos acompanha especialmente é o IndieMusic, em que "um dos eixos é o ecletismo, não focar a programação num determinado género de música ou num determinado movimento. Nós recebemos e vimos uma série de filmes mas procuramos construir uma programação de uma forma muito ampla que dê visibilidade não só a bandas como a movimentos musicais, que permita ter alguns nomes conhecidos. Toda a gente conhece a Billie Holiday. Se eu falar do Laurel Canyon, estamos a falar do Frank Zappa, do Neil Young, dos Doors, que viveram naquele bairro. Mas também estamos a falar de espaço para haver descobertas", entre as quais documentários sobre músicos obscuros como o artista electrofolk Beverly Glenn-Copeland ou o cantor pimba falecido (e agora alvo de culto) José Pinhal.

 

Há um filme do IndieMusic fora da competição: "Gostávamos de homenagear os 50 anos de um dos melhores documentários de sempre, que é o Gimme Shelter, dos Rolling Stones. É o 50º aniversário daquele infame concerto dos Rolling Stones em Altamont, que terminou com um fã que foi assassinado pelos Hell Angels, que faziam a segurança" daquele festival na Califórnia e que simbolizou a morte da era hippie, meses depois do homicídio em série do músico Charles Manson.  

 

Sobre a edição do próximo ano do IndieLisboa, há já uma confirmação no IndieMusic que Carlos Ramos nos pode fazer: o documentário "Sisters with Transistors", sobre as mulheres pioneiras da eletrónica, com narração de Laurie Anderson e realização de Lisa Rovner. O "primeiro filme oficial sobre Frank Zappa", ou os documentários sobre Bob Marley e Jimi Hendrix que estão a ser feitos, estão a ser seguidos atentamente pelo IndieLisboa, mas há vários fatores pendentes, como as delongas das conclusões desses projetos ou a necessidade do Comité de Seleção de os ver primeiro para aferir se se enquadram, a que se junta os efeitos imponderáveis deste ano de paragem na produção cinematográfica.  

 

No IndieLisboa, cada secção tem uma equipa diferente de seleção. Para um programador como Carlos Ramos, a discordância é muito bem-vinda. "Os comités são constituídos por pessoas de diferentes ângulos sobre o que é o cinema e com diferentes experiências. Temos pessoas ligadas ao cinema - realizadores, críticos, académicos -, há engenheiros, antropólogos, jornalistas, e isso é uma coisa que enriquece o comité. O que eu não quero é ir para uma reunião do IndieMusic em que toda a gente goste daquele filme, porque se não, não precisava de trabalhar com aquelas pessoas. Escolhia só eu os filmes e pronto".

  

A edição deste ano do IndieLisboa sujeita-se ao cumprimento das normas sanitárias atuais, relacionadas com a necessidade de contenção da pandemia do covid-19. Carlos Ramos lembra-nos que a lotação do espaço será reduzida a metade, com espaçamento obrigatório entre cadeiras e com as filas da frente e de trás desemparelhadas, além do uso obrigatório de máscara e da circulação obrigatória nos espaços após as sessões para evitar concentrações. 

 

As informações sobre bilhetes podem ser consultadas nesta página do site oficial do IndieLisboa.