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Silvia Mendes
04 fevereiro 2023, 09:44
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Canções de amor numa noite de amigos no regresso de Eros Ramazzotti a Portugal

Canções de amor numa noite de amigos no regresso de Eros Ramazzotti a Portugal
Rúben Viegas
Silvia Mendes
04 fevereiro 2023, 09:44
Foi a primeira noite dos dois concertos que marcam o regresso do artista italiano a Lisboa. Hoje há mais.

Lisboa foi a primeira cidade europeia a acolher a digressão "Battito Infinito", que é também o circuito mundial que apresenta o disco que Eros Ramazzotti editou em 2022. É mais um álbum da discografia avolumada do cantor e chega, no alívio pós-pandémico, para celebrar o amor e todas as formas que o mais valioso sentimento humano pode ter. Canções para celebrar a nobreza de amar, sobretudo depois da escuridão do isolamento. 

Duas noites para o grande regresso do cantor que tanto nos ajudou a traduzir a linguagem do coração para um idioma mais arriscado, o italiano. O "bellissimo" italiano. A motivação para cantar sobre amor permanece em Eros e foi o que o trouxe outra vez até nós. O músico chegou com um disco ainda "pintado de fresco" mas também cantou as canções mais rodadas que os milhares que estavam na sala gigante de Lisboa queriam ouvir. 

A Altice Arena foi então o ponto de (re)encontro de Ramazzotti com os fãs portugueses, o que demorou 19 anos para acontecer. As saudades eram muitas e isso notou-se logo pelo aplauso que se propagou pela sala, quando o músico, atualmente com 59 anos, subiu ao palco.  

'Battito Infinito', a faixa-título do novo disco, abriu o espetáculo. Eram 21h30, quando um intenso fundo vermelho preencheu o palco, ao mesmo tempo que se ouvia um sussurro a chegar em ondas sonoras que se cruzavam com as ondas marítimas que víamos no ecrã. O ambiente antecipava que algo grandioso estava prestes a acontecer. Os músicos foram-se posicionando no palco até o sussurro culminar no som do vital batimento cardíaco que fez a transição para o piano. Foi nessa altura que ouvimos a voz tão própria de Ramazzotti a sobressair da delicadeza das teclas e mais tarde dos restantes instrumentos que, entretanto, foram edificando o trabalhado tema de abertura. E eram muitos. Dois postos de percussão, dois postos de teclas, saxofone, guitarras, baixo e duas vozes femininas nos coros. Atrás, feixes de luz, projetados na tela gigante, iam sendo sugados para uma espécie de ponto de conversão, transportando quem estava na arena para uma dimensão mais contemplativa.

A dramática 'Battito Infinito', que se desenrola ao longo de largos minutos, meteu a fasquia a uma altura considerável. O tema, que é também uma ode ao batimento cardíaco da vida, foi aprimorado com um monólogo interpretado pela filha do músico, Aurora, que "esteve" em palco através de uma projeção de vídeo e sempre em sintonia com o pai.

A voz de Eros Ramazzotti mantém a força e a mesma personalidade, como se o tempo estivesse a preservá-la no melhor vinho do Porto. Entregou-a logo a seguir a mais duas novidades: 'Gli Ultimi Romantici' e 'Sono', esta última partilhada com Alejandro Sanz que por essa altura "substituiu" Aurora no grande ecrã. 

Os que ali estavam receberam bem as novidades mas rejubilaram quando puderam trautear os hits mesmo que o tenham feito num italiano mais intuitivo do que certeiro. As glórias radiofónicas vieram a seguir.  

O animado 'Dove C'è Musica' meteu Ramazzotti aos pulos, a andar de um lado para o outro e a cortejar o público de quem não conseguiu manter distância durante o concerto. Assim que os fotógrafos saíram de cena, o homem do coração agitado desceu pela rampa para os braços dos que estavam na plateia e encavalitou-se nas grades para carinhosas sessões de selfies com os mais velozes que se chegaram à frente. 

Energético, vivaço e bem-disposto, Eros Ramazzotti gritou por Lisboa, pediu palmas e arriscou no português. "Boa noite, Lisboa. Obrigado por esta noite fantástica. Bom concerto", disse-nos, lembrando que a espera pelo reencontro foi demasiado longa. O público concordou. 

 

Próximo, entre nós, pôs a voz ao serviço de 'Quanto Amore Sei' e 'Un'Emozione Per Sempre'. Por esta altura, Eros estava no meio da plateia, a passar o microfone a quem avistava e a saudar toda a gente como se estivesse a cantar numa roda gigante de amigos. 

'Più che puoi', a canção que outrora partilhou com Cher, contou com a colaboração de um dos elementos do coro e 'Stella Gemella', que teve um interlúdio a piscar o olho ao gospel, acabou com o cantor italiano, agora mais quieto, a manusear a guitarra.

A balada 'Se Bastasse una Canzone', do disco "In ogni senso", transportou-nos para um mundo melhor, bem mais unido e empático. "Se bastasse uma bela canção para falar de paz", canta Ramazzotti desde o final dos anos 80. Ontem voltou a fazê-lo, décadas depois, e agora com as luzes dos telemóveis a substituir os velhos isqueiros que, noutros tempos, se levantavam nestas ocasiões. Mudam os pontos de luz, mantém-se o clássico e a pertinência de cantar em nome da paz. 

O ritmo do recente 'Ritornare a Ballare' levantou praticamente toda a gente das cadeiras. "Isto é uma festa", dizia Eros, convicto e alegre, ao mesmo tempo que dava tudo no movimento de anca. "Lisboa te amo", disse antes de oferecer 'Un Attimo Di Pace', 'Magia' e 'I Belong To You', tema que já dividiu com a contora Anastacia.

O momento acústico que veio a seguir, com Eros ladeado por alguns dos músicos no centro do palco, fez sobressair ainda mais a voz única que lhe reconhecemos e que encheu de alma o amplo espaço da arena. 

Do alinhamento da noite de ontem saltaram mais de vinte canções, entre as quais a muito aguardada 'Un'Altra Te', que mereceu uma espécie de reprise imediata com um twist reggae para lembrar Bob Marley, e ainda uma visita ao som mais funky de 'Terra Promessa', lançada com o disco "Cuori Agitati" de 85.

'Fuoco Nel Fuoco' voltou a meter Eros Ramazzotti nas grades, indo de uma extremidade à outra do palco, de telemóvel na mão para captar os momentos de comunhão com o seu estimado público. O início de 'Cose Della Vita' fez estremecer a maior sala de espetáculos do país, com todos de pé para cantar com Eros. 'L'Ombra Del Gigante' foi para dançar até ao encore. 

Ao regressar ao palco, de t-shirt e boné virado ao contrário, Eros Ramazzotti debruçou-se no piano para cantar um excerto de 'Aurora', canção que dedica à filha. Brincalhão e de sorriso jovial, ofereceu mais três canções a quem esperou tanto tempo para voltar a vê-lo ao vivo, mais de perto. Ouvimos 'Favola', 'Musica è' e o final que se esperava. Se a sala lisboeta já estava quente, a ode romântica 'Più Bella Cosa', extraída dos anos 90, ferveu a arena ao ponto de derreter os corações que, mesmo a derreter, terão batido mais depressa. Como a batitta infinita. Como o batimento da música, do amor e da vida que Eros Ramazzotti veio celebrar connosco.    

Hoje é a segunda noite de celebração, no mesmo sítio, à mesma hora.