Ouça a M80, faça o download da App.
Silvia Mendes
24 agosto 2019, 10:21
Partilhar

EDP Vilar de Mouros: os putos estão bem!

EDP Vilar de Mouros: os putos estão bem!
Rúben Viegas
Silvia Mendes
24 agosto 2019, 10:21
Os Offspring "rockaram" até às tantas da madrugada perante o público "mais sexy" dos últimos tempos. Ontem houve "um milhão de mosh pits" na relva clássica do recinto do festival minhoto e crowd surfing na crista da nostalgia.

 

A noite foi de revivalismo, nostalgia, saudade e de todas essas palavras que lembram o óbvio: que o tempo passa. Ontem não quisemos saber disso e hoje ainda acordámos sem saber muito bem que década estávamos. Os Offspring levaram-nos para a golden era do punk rock dos anos 90 e para as malhas que ouvíamos com os amigos no recreio do liceu quando o professor não aparecia depois do "segundo toque". Vai custar um bocadinho a sair de lá.

O tempo passou, já sabemos, mas há uma certeza inabalável por estes dias no Minho: não há idade para saltar e "dar tudo" quando as canções (que antes ouvíamos vezes sem conta) se soltam dos alinhamentos para ganhar vida no palco. A energia da banda da Califórnia e do público esteve no ponto para uma "matança" de saudades e ficou claro que as malhas que agitaram a nossa juventude (por si só já agitada) nunca tiveram pó. Ontem fomos todos putos outra vez! 

Se no primeiro dia do EDP Vilar de Mouros celebrámos o hard rock dos The Cult, ontem foi o punk rock descomplexado da Califórnia ecoar, a alto e a bom som, pelas colinas da aldeia minhota pela madrugada fora. Os Offspring fecharam a noite à velocidade esperada para os parâmetros do rock mais apunkalhado. Houve mosh pit, crowd surfing, refrões desdobrados em oh oh ohs, bolas gigantes coloridas a passar de mão em mão e gente feliz, muita.

Americana (do álbum com o mesmo nome de 98) foi então a primeira a soltar-se do alinhamento perante um público cheio de sede da banda de Dexter Holland. A aproveitar o balanço, os norte-americanos continuaram "a abrir" com All I Want, seguindo-se uma inevitável visita a Smash (de 94). Come Out and Play foi a primeira a representar o disco que este ano celebra 25 anos. Atenção, Smash não é um disco qualquer, é um fenómeno. Ou foi. É que a proeza, em uma forma de álbum e com o selo de uma editora independente, vendeu que se fartou no mundo inteiro. Vendeu tanto que ajudou a levar o punk rock "offspringuiano" (e não só) para as lides do mainstream, o que, na altura, surpreendeu muitos... até a banda de Dexter Holland. De repente, o som que antes estava confinado aos bares, estava mais perto das colunas de estádios.

Se na altura o sucesso espantou a jovem banda, ontem tínhamos no palco homens já feitos ainda espantados com a euforia da multidão que tinham aos pés. Dexter e o carismático Noodles chegaram a ficar parados a olhar para o público, para ver se aquilo estava mesmo a acontecer. "Não consigo falar... Vejo um milhão de mosh pits por aí. Devo estar a sonhar", disse Noodles para Dexter num dos diálogos que protagonizaram entre os temas. "Não há este entusiasmo na Bélgica", continuou o guitarrista. Público na mão e vontade de continuar, era tempo para ouvir a novidade da noite. "Vamos tocar um tema novo, queria dizer-vos como é que se chama, mas não me lembro", disse Noodles, o rei do entretenimento de multidões às tantas da madrugada. Nós damos uma ajuda, chama-se It Won't Get Better e fará parte do novo álbum que a banda norte-americana está para lançar. Se nestes concertos mais nostálgicos, a apresentação de material novo pode ser um momento para acalmar os ânimos, ontem isso não aconteceu. Houve entusiasmo e crowd surfing na crista da novidade. 

Os álbuns Conspiracy of One, Ixnay on the Hombre e Splinter também tiveram espaço no alinhamento, mas Smash e Americana ganharam a corrida.

Resumindo, houve um Gone Away intimista, com Dexter Holland piano, e clássicos em série, como Staring at the Sun, Bad Habit, Pretty Fly (For a White Guy), Why Don't You Get a Job? ou The Kids Aren't Alright. Os AC/DC também não faltaram à chamada no alinhamento, com uma versão de Whola Lotta Rosie a "dar cabo do público", isto num bom sentido, claro. 

"Estou a ver fumo a sair do público", disse Noodles a Dexter, em mais um diálogo animado que por vezes lembrava a graça descontraída da mítica dupla animada da MTV, Beavis and Butt-Head. "Este é o público mais sexy dos últimos anos", continuou, arrancando mais manifestações de euforia na relva do recinto. O tempo passou a correr, tal como os temas que os Offspring levaram ao Minho. Self Esteem, já no encore, meteu toda a gente a saltar ao mesmo tempo, feliz por estar ali. Ao nosso lado, um grupo de amigos saltava abraçado num mini mosh protegido por, quem sabe, anos e anos de cumplicidade. Fomos todos putos e estávamos bem.